segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A única maneira de começar a consertar as coisas. 
Nessa altura do campeonato, todos os textos sobre Oruro já foram escritos e todas as indignações já foram externadas, mas não há como ter um blog sobre futebol e não registrar o assunto. Não pretendo tirar minha opinião da reta, mas vou inverter a ordem. Primeiro, quero falar do receio que tenho com a história de punições generalizadas. Cansei de ir a clássicos no Maracanã com público superior a 120 mil pessoas. Havia as torcidas organizadas, com Jaime de Carvalho chefiando a do Flamengo, Dulce Rosalina puxando o casaca, casaca do Vasco, Tarzan comandando a do Botafogo e Roberto (acho que era esse o nome) a do Fluminense. Os torcedores dos dois times entravam e saíam pelos mesmos portões, fazendo provocações quando chegavam e gozações quando iam embora, mas tudo mais ou menos numa boa. Vi brigas, claro, mas era algo tão estranho que chegava a causar vergonha alheia: brigar por causa de futebol? Façam-me o favor. Mas, seja com 120 mil, seja com 60 mil pessoas no estádio, não dá para exigir de um clube que exerça controle absoluto sobre o que fazem seus torcedores. Se a polícia não consegue, como o clube vai conseguir? E aqui não cabem diferenças. Torcedor de futebol, quando dá para ser louco e descontrolado, é louco e descontrolado vestindo qualquer camisa. Claro que há mais probabilidades dos problemas acontecerem com as torcidas do Corinthians e do Flamengo, por uma questão matemática, mas são todas iguais no destempero e na selvageria. Além disso, temo pela nossa esperteza. Somos um povo esperto demais. No centro de nossa bandeira deveria estar uma foto do Macunaíma, e não aquela estranha expressão “ordem e progresso”. O presidente do nosso Senado é Renan Calheiros, um espertalhão de marca maior. Pra não fugir do futebol, um dos nossos maiores jogadores, ganhador de Copa do Mundo, vencedor de Champions League, duas vezes eleito o melhor do planeta pela FIFA, cria uma jogada de gol pedindo um gole de água ao goleiro adversário – aí o goleiro age com esportividade e sai de campo com a palavra “otário” carimbada na larga testa, enquanto o craque amplia sua fama de esperto. Quero dizer o seguinte: caso as decisões passem a ser tomadas sob a forma de ritos sumários, não ficaria surpreso em ver um cara apaixonado pelo Inter vestir uma camisa do Grêmio e ir pro meio da torcida rival, num jogo com mando de campo tricolor, para atirar coisas no gramado e prejudicar o adversário. Repito: não vamos esquecer que somos espertos toda vida. De qualquer modo, esse primeiro e longo parágrafo revela algumas preocupações, mas é claramente o lado mais fraco da história. 
O outro lado, muito mais poderoso, começa justamente onde termina um dos argumentos acima. Se nem o clube e nem a polícia são capazes de controlar cinquenta, setenta ou noventa mil torcedores, só há uma força capaz de assumir essa responsabilidade: os próprios torcedores. E aí a teoria das punições generalizadas precisa ser abandonada, perdendo de goleada para a importância de punições que sirvam de exemplo. Não há outro jeito. Um dia antes do jogo do Corinthians, vi um pequeno trecho do primeiro tempo de Toluca x Nacional de Montevidéu. Houve cinco minutos de paralisação, porque a torcida mexicana atirou um objeto qualquer na cabeça de um dos bandeirinhas. A partida foi interrompida, o bandeirinha foi atendido e a bola continuou a rolar como se nada tivesse acontecido. Mesmo porque, no bordão mais irritante dessa época do ano, Libertadores é assim. A teoria do exemplo torna a punição ao Corinthians necessária e justa, mas para ser justa de verdade ela precisa quebrar um padrão: a partir de agora, ninguém mais vai precisar de proteção policial para bater um escanteio; a partir de agora, bandeirinhas não se arrependerão de entrar em campo sem capacete; a partir de agora, os jogos da Libertadores finalmente chegarão ao século XX – sim, XX, e não XXI. É importante, também, que seja apurada e abolida de vez a vergonhosa relação existente entre as diretorias dos clubes e as torcidas organizadas. Cada um vive como quer e gasta seu dinheiro do jeito que prefere, mas essa história de torcedor brasileiro em Oruro não entra na minha cabeça. Ok: o Corinthians vai disputar a final do mundial interclubes em Tóquio, o cara pede pra ser demitido, torra a grana da rescisão e faz um monte de loucuras, só que é a final do mundial interclubes em Tóquio. Mas quem é que vai daqui pra Bolívia – de ônibus! – para assistir ao primeiro jogo da fase de grupos da Libertadores? Esses caras trabalham? Estão de férias? Tá certo que a nova classe C tem conseguido milagres, mas esse aí merece canonização. Por mais que seja, coitada, a Bolívia, uma viagem dessas não sai de graça. Tem a passagem, tem o ingresso, o indivíduo precisa comer, precisa dormir, precisa perder uma semana de trabalho. Bom, que trabalho? E aí é que está: quem banca esses caras? Há muito tempo que as nossas torcidas organizadas deixaram de ser aquela coisa romântica e desinteressada do tempo da Dulce Rosalina, e passaram a viver uma promíscua e remunerada relação com as diretorias dos grandes clubes. Por mantê-las e incentivá-las, essas diretorias – e os clubes que elas representam – precisam ser responsabilizadas na hora em que acontece o que aconteceu. 
Pra terminar: tenho um neto de um ano e oito meses que passa boa parte do dia chutando uma bola e gritando gol. Até hoje lembro nitidamente de várias das minhas idas ao Maracanã levado por meu pai e gostaria muito de poder reviver essa experiência, agora desempenhando o outro papel, com o Martin. Quero que ele possa sentir a mesma alegria que eu sentia naqueles dias e que ele venha a ter a mesma memória afetiva que tenho hoje. Algo me diz que essa punição ao Corinthians pode ser o primeiro passo para tornar esse sonho possível.

2 comentários:

  1. então teve muito texto sim e teve muita abobrinha ... um filho da puta filho de dir da globo q acha q pode falar o q qr por exemplo vai ter q engolir uma matéria da globo falando exatamente o contrario do q ele pregou no twitter.... muita aborbrina ufanista... pra ser sincero nenhum torcedor q nao seja corintiano esta afim de apurar com justica.... todos estão querendo foder o Corinthians....são hipócritas .... foda-se uma morte, foda-se q entraram num estadio com 10 arteftos de pelo menos 30cm e passaram sim pela policia.... da medo mesmo...
    Uma amiga minha torcedora do Palmeiras disse q nao tinha vergonha do time ser rebaixado e sim do corinthians... Perai!!! a Mancha tb nao é finaciada pelo clube.... sera q o time nao gasta mais com torcida do q com jogador? Gaviões, Mancha, Independente... todas podres...
    Se vc da ums bola de cristal na mão de uma criança de 2 anos e ela joga no chão? de qm é a culpa? da criança ou de qm deu a bola...

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  2. Texto fantástico Murta, fantástico. Eu disse isso também. Cabe o jogador do time adversário precisar do escudo de policiais para poder bater um escanteio? Nessa história não tem mocinho. Todas as torcidas e todos os clubes que financiam esses caras tem culpa, além, é claro, da polícia....etc. Acabou a "pureza" do futebol, hoje o time do cara faz um gol, o cara sai na janela e grita um "chupa". Chupa porquê? Porra, seu time faz um gol...grita gol caralho. Infelizmente o ódio entre as torcidas está crescendo de uma maneira preocupante. Agora todo corinthiano é assassino...como se todos os outros que não torcem para o Corinthians fossem santos, como o Magalha comentou da amiga dele. É absurdo vc. não poder entrar com bandeira mas deixarem entrar isso. É como você escreveu Murta, é uma questão de matemática proporcional, quanto maior a torcida.....
    Bom, se o time for punido e adiantar algo, parabéns, mas eu duvido....
    Grande abraço...

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