quinta-feira, 31 de março de 2011

O dia em que Everton Sena virou o jogo em cima do blog e ganhou o respeito eterno do futuro sogro.
Eu devia fazer que nem o Osvaldo Speratti, grande redator que trabalha aqui com a gente, revoluciona o varejo a cada semana e nunca vê os jogos que o São Paulo perde. Se o São Paulo perdeu, é batata: ele pegou um trânsito terrível, teve blecaute no principado de Perdizes, foi assistir à apresentação de balé da afilhada, qualquer desculpa serve. Quando o São Paulo ganha, tá lá ele, todo pimpão, comentando cada detalhe da vitória. 
Para evitar as pragas do Jaime, o olhar atravessado da Camilinha, o desprezo do Roger e do Alê, melhor seria dizer que não vi. Mas, fazer o quê?, eu vi sim. Vi Rodrigo Souto bater na bola de chapa, com uma categoria e uma precisão nunca antes imaginadas, e tirar qualquer chance de defesa de Rogério Ceni. Vi Rogério Ceni dar fricote com juiz e adversários num jogo que, se o São Paulo tiver o mínimo de competência na partida de volta, não terá valido nada. Vi Juan reviver seus piores momentos de Flamengo. E vi, mais uma vez, Carpegiani fazer uma bobagem completa ao escalar Lucas na ponta-direita e facilitar a marcação sobre ele. 
E aí chegamos ao grande nome da noite. Everton Sena. Outro dia escrevi um post em que falava das agruras de Everton Sena ao pedir a mão da amada ao possível sogro e revelar que sua profissão era zagueiro reserva do Santa Cruz. Levei um puxão de orelha do Pedro Saud e, pra piorar, ontem a bola me puniu. Everton Sena entrou desde o início, com a missão específica de colar em Lucas, anulou o excelente meia são-paulino e foi aí que o Santa Cruz começou a ganhar o jogo. 
Mas o futebol tem mesmo coisas muita estranhas – e é por isso que ele é tão bacana e único. Quem viu o Santa Cruz jogar ontem pôde perceber que o time é limitadíssimo, mas também não é time para estar na quarta divisão do futebol brasileiro. E na quarta-feira que vem vai ser engraçado: até Heitor Pontes e sua cadela Drica estarão debaixo das traves, dando bico pra tudo quanto é lado, pra tentar segurar o zero a zero.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O artilheiro Rogério, o filósofo Gasset e nosso intelectual maior, Luxemburgo. 
Dirigia na estrada, voltando de um grande final de semana no Rio, quando a mensagem bateu no meu celular com a agressividade de uma casca de banana no gramado do Emirates Stadium: “Saia da frente da tevê.” Eram quatro e pouco da tarde, e Corinthians x São Paulo acabara de começar. 
Logo depois parei para almoçar e aproveitei pra responder. Expliquei que estava na estrada, não conseguiria ver nenhuma das partidas das quatro horas e, no máximo, pegaria alguma coisa de Fluminense e Vasco, às seis e meia. Mas é óbvio que, diante de tamanho frenesi, não deu para ignorar a história do gol número cem. 
Rogério Ceni é excelente cobrador de faltas – melhor até do que de pênaltis –, ninguém bate na bola daquele jeito se não treinar exaustivamente, e por isso ele merece mesmo todas as homenagens, ainda mais porque bater faltas e fazer gols não faz parte do que os pernósticos publicitários chamam de “job description” de um goleiro. Agora, sem querer ser chato: foi um pouco demais, não? Porque aí, além de fazer o centésimo gol, o cara vira o marido exemplar, o pai extremoso, o filho que toda mãe gostaria de ter, o exemplo de vida, o maior goleiro da história de todos os esportes, incluindo aí os de handebol e hóquei sobre gelo. 
Uma das coisas que aprendi com os grandes amigos são-paulinos que fiz nos últimos seis anos foi essa: futebol é título. E como apenas um clube pode ser campeão paulista de 2011, creio que uma dessas duas comemorações vai soar meio desafinada quando o paulistinha acabar: ou o incompreensível fricote de Tite com o terceiro gol do Corinthians naquela vitória sobre o Mirassol, ou a apoteose do último domingo com a história do gol número cem. 
Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Essa frase foi criada pelo filósofo espanhol José Ortega y Gasset, repetida em vários momentos da história política brasileira por Ulysses Guimarães e totalmente desconsiderada por Vanderlei Luxemburgo. 
Se até eu às vezes me canso das repetidas críticas do blog a técnicos e comentaristas, posso imaginar o que sentem os abnegados seguidores. Por isso não pretendo alimentar por mais tempo o assunto Adriano, mas é impressionante a desfaçatez do arrogante e cínico professor. 
A arrogância está em achar que seus esquemas táticos superam a qualidade individual de quem os executa. E o cinismo é tão grande que, depois da torcida rubro-negra pedir em coro o nome de Adriano quando o time perdia para o poderoso Madureira por tês a um, Luxemburgo teve a cara de pau de afirmar que olhou pra trás do banco de reservas e viu meia dúzia de pessoas reclamando. Pessoas essas que, ainda segundo ele, certamente receberam um dinheirinho para se manifestar. Idiota. 
Já torci uma vez especificamente contra Vanderlei Luxemburgo, apesar de, naquele momento, isso representar torcer também contra mim. Foi na derrota para Camarões nos Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney. Naquela época o cara tinha tantos reis na barriga que era insuportável a hipótese de vê-lo ganhar qualquer coisa. Agora me sinto, mais uma vez, inclinado a torcer contra. 
Reconheço que há centenas de riscos e de motivos para um treinador não querer Adriano no elenco. Mas Vanderlei não poderia ter ignorado as circunstâncias, e elas são muitas.
Primeira: o que Adriano queria, de verdade, era jogar no Flamengo. Segunda: em tempos de futebol milionário, Adriano não custaria um centavo além do salário mensal. Pechincha. Terceira: por estar absolutamente em baixa no mercado, Adriano provavelmente toparia ganhar menos do que muito cabeça-de-bagre que anda por aí, vários deles habitando, inclusive, a folha de pagamento da Gávea. Quarta: há menos de dois anos Adriano foi fundamental para o Flamengo voltar a conquistar um título que não ganhava há quase duas décadas. E mais: foi o artilheiro da competição, e ninguém consegue ser artilheiro do Campeonato Brasileiro se não tiver um número bastante bom de jogos disputados. Portanto, a história de que Adriano não joga é balela. Por fim, o que considero a principal de todas as circunstâncias: o Flamengo não tem nenhum atacante com capacidade sequer para amarrar as chuteiras do Imperador. 
Portanto, a partir de hoje está decretado: Vanderlei Luxemburgo está para o blog do mesmo jeito que Muricy está para o Jaime. A não ser que ele consiga transformar o time numa máquina de jogar bola – o que, pra mim, não existe a menor possibilidade de acontecer.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fluminense e América do México: Libertadores na veia.
O jogo entre Fluminense e América do México foi a cara da Libertadores. Tecnicamente sofrível, mas brigado e emocionante. Muita marcação, pouca criatividade, gols esquisitos, critério de arbitragem bem diferente do que estamos habituados – a maioria dos nossos juízes teria dado falta, que não houve, no primeiro gol do América. 
O time mexicano chegou apenas três vezes à área do Fluminense, e contou com a ajuda de Ricardo Berna e Digão pra fazer seus dois gols. O time carioca também se beneficiou de lambanças da zaga do América, mas contou, sobretudo, com a capacidade técnica do Deco. Partidas que são decididas como a de ontem só aumentam minha decepção com técnicos que não entendem que futebol deve ser jogado por quem sabe. Falo de forma geral e não especificamente do Deco, até porque o cara precisa estar em campo, e correndo, pra gente poder avaliar se ele sabe ou não. Foram dois toques simples, dados como quem tá batendo bola com o filho de seis anos no quintal de casa. Dois tapinhas. Um pra pôr a bola na cabeça de Araújo, no lance do segundo gol, e o outro para encobrir o goleiro e garantir a vitória. Fosse o Diguinho nas duas jogadas e o Fluminense estaria eliminado. 
Enquanto isso, na arquibancada, foi interessante ver o vertiginoso crescimento do movimento antimuricysta liderado pelo Jaime. A torcida do Flu levou faixas com juras de amor eterno ao técnico. Uma delas dizia “Muricy amarelão”. (Bastante apropriada a um treinador que não ganha nada em mata-mata.) Outra afirmava “Muricy traíra e mentiroso. O Fluminense tem ética e não precisa de você.” O cara saiu bem de lá, não?

segunda-feira, 21 de março de 2011

Atirando em Adriano, Luxemburgo periga acertar o próprio pé.
Vanderlei Luxemburgo sempre foi bom técnico, mas sempre foi irritantemente teimoso. Agora virou também pedagogo, e além da inexplicável irredutibilidade em relação a Adriano, cismou de colocar o Diego Maurício de castigo, deixando-o no banco. Com o que existe hoje na Gávea, Diego Maurício tem vaga no time mesmo com Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves em campo. Pois ontem, com os dois suspensos, ele ficou mais uma vez na reserva e só entrou no segundo tempo. Dos quatro atacantes que o Flamengo utilizou no jogo, Diego Maurício foi o único a levar perigo ao Cabofriense, com duas boas jogadas individuais que terminaram com dois perigosos chutes a gol. E por falar em Adriano, um PS rápido em relação ao texto de sexta-feira: Vanderlei pode até achar que o atacante não vai resolver dentro de campo e vai atrapalhar o ambiente fora dele. Claro que Adriano é uma incógnita, e é preciso dar esse direito ao técnico. Mas é de uma falta de habilidade completa se recusar a sentar com o jogador pra conversar – nem que seja pra dar uma satisfação à torcida, que quer o Imperador de volta. Conversa com o cara, ouve, propõe acompanhamento terapêutico vinte e quatro horas por dia, impõe um contrato com cláusulas especiais, sei lá. Mas com essa estratégia turrona e equivocada, Vanderlei está trazendo toda a responsabilidade para si e correndo o risco de ser enxotado da Gávea, caso não consiga títulos importantes e se os seus atacantes continuarem com atuações lamentáveis como a de ontem. 
Bidu: o enfadonho Campeonato Paulista continua com os quatro grandes nos quatro primeiros lugares. O Santos perde em Bragança, o Palmeiras empata aqui na terra, o Corinthians ganha em casa, o São Paulo vence em Presidente Prudente, e nada muda. Pura perda de tempo. Outro dia o Jaime propôs, aqui no blog, uma excelente fórmula para a disputa do Campeonato Brasileiro. Enquanto não se decide pelo fim dos estaduais – coisa que vai demorar, se é que um dia vai vir –, bem que ele poderia pensar num jeito de deixar o paulistinha um pouco mais animado. Porque do jeito que tá, tá duro de ver. 
Aos domingos o celular costuma ficar perdido pela casa, daí que não vi quando um amigo são-paulino mandou uma mensagem com esse texto curto e acusatório: “você tá vendo o jogo, né?” Já que ele costuma afirmar que dou azar ao São Paulo, imaginei que o time estivesse num daqueles dias. Não, eu não estava vendo o jogo, mas tinha posto pra gravar, pra poder conferir caso acontecesse uma exibição impecável – o que, definitivamente, não foi o caso. Dei uma espiada depois, e a tal velocidade do time parece que cansou. Só vi velocidade nos vinte minutos finais, quando Henrique entrou no lugar do Casemiro e, com isso, Lucas recuou um pouco e voltou a jogar no meio. Porque, até ali jogando quase que como um ponta-direita avançado, Lucas pegava pouco na bola e não participava da armação das jogadas. Coisas de Carpegiani. Depois não gosta quando o chamam de Professor Pardal. 
Sábado, no Engenhão, o Fluminense jogou contra o Boavista com três volantes de marcação. Perdeu de dois a zero, levou bola na trave, tomou olé no final e Ricardo Berna teve que fazer duas ou três grandes defesas. O que adianta jogar com três volantes de marcação? 
Há muito tempo eu não via o Vasco jogar bem, e ontem o Vasco jogou muito bem contra o Botafogo. Dominou o primeiro tempo, do qual só não saiu vitorioso porque Jéferson fez os milagres de sempre, e massacrou no segundo. Dois a zero foi pouco. Diego Souza e Éder Luís marcaram bonitos gols, em lances de hesitações da zaga do Botafogo, mas a verdade é que não há defesa que resista a um domínio tão grande. Chega uma hora em que você acaba falhando. O time de Joel Santana apostou no de sempre: marcação disciplinada, Jéferson salvando a pátria e Loco Abreu tentando resolver nas bolas altas. Pra quem gosta de futebol bem jogado, é quase nada.  
Faltam nove meses para o ano acabar, mas dificilmente o futebol brasileiro verá, em dois mil e onze, um jogo tão ruim quanto Flamengo e Cabofriense. Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves ainda não fizeram o que deles se espera, mas a ausência dos dois fez o Flamengo voltar a ser o patético time do Brasileirão do ano passado. Sem saída de bola, sem passe, sem agressividade ofensiva. A melhor jogada de gol aconteceu aos trinta e três minutos do segundo tempo, quando Egídio chegou à linha de fundo, cruzou na medida e, subindo sozinho na risca da pequena área, o centroavante que ganha quatrocentos mil reais por mês cabeceou pro alto e isolou. Mas ele serve, porque é disciplinado, não falta aos treinos e não assa carne nas lajes da Vila Cruzeiro.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Adriano. Como o Flamengo não tem nada melhor, ou sequer parecido, vale o risco.
No final do ano passado, quando começaram as especulações sobre o possível retorno de Adriano ao futebol brasileiro, escrevi um post que defendia duas teses. 
Primeira: maloqueirão clássico e incorrigível, Adriano só pode jogar no Flamengo, no Corinthians ou no Atlético Mineiro. 
Segunda: entre esses, seria melhor optar pelo Corinthians. Naquele momento, Ronaldo sabia que estava chegando a hora de parar e que era preciso alguém pra dividir a responsa de encarar a Libertadores. Além disso, eu achava que, por toda a confusão gerada na última passagem do Imperador pelo Flamengo, o clima no Rio seria esquisito. Pra vocês terem uma ideia: outro dia a imprensa carioca armou um furdunço só porque o cara foi visto bebendo chope numa churrascaria. Aí não há cristão que aguente. 
Mas as coisas mudaram no Corinthians, e com a contratação do Liédson o comando do ataque deixou de ser prioridade para o clube. Restam o Atlético Mineiro, que acabou de perder Diego Tardelli, e o Flamengo, que sabidamente não tem ninguém que se aproxime do conceito de centroavante. No entanto, o professor não quer. 
Reconheço que deve ser complicado administrar trinta caras despreparados quando um deles desanda a fazer bobagem, só que técnico ganha também pra isso, não? Até entendo a posição do Luxemburgo, mas não apóio. Aliás, eu e a torcida do Flamengo, que parece disposta a suportar a instabilidade de Adriano para contar com alguém que saiba o que fazer com a bola da intermediária adversária pra frente. 
Os movimentos favoráveis ao retorno de Adriano deixam claro que o torcedor tá se lixando para o que ele faz fora de campo, desde que resolva lá dentro. Concordo e digo mais: se o advogado de defesa conseguisse montar um júri só com torcedores rubro-negros, e no dia do julgamento mostrasse o DVD do Bruno defendendo aqueles dois pênaltis do Ganso no mesmo jogo, na reta final do Brasileirão de dois mil e nove, a absolvição era batata. 
Enquanto fazia gols e ganhava o Brasileirão, Adriano sempre foi apoiado pela torcida rubro-negra. Parou de ganhar, neguinho caiu de pau. Simples. Torcedor se importa é com o que o jogador faz dentro de campo. Além disso, acho de um falso moralismo absurdo essa história de que Adriano é ídolo e tem que servir de exemplo. Ora, o cara é um centroavante nascido e criado na Vila Cruzeiro, que ficou famoso e enriqueceu às custas do próprio trabalho e sem roubar ninguém. As duas pessoas a quem o Adriano precisa servir de exemplo são os filhos dele. Quanto aos outros, cada um que cuide dos seus. 
Quando houve a crise com Neymar, Dorival Jr. declarou numa entrevista coletiva que o treinador de futebol é, mais do que qualquer coisa, um gerenciador de problemas. Se Vanderlei Luxemburgo ganha, sei lá, quatrocentos ou quinhentos mil reais por mês e não consegue gerenciar o Adriano, alguma coisa tá errada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A diferença que o craque faz.
Ontem no almoço, Camilinha perguntou que jogo eu veria à noite. Como não há pay-per-view para Libertadores e Copa do Brasil, as opções não eram muitas: Uberaba e Palmeiras, Fortaleza e Flamengo, Colo-Colo e Santos. (Não poderia escolher Cruzeiro e Tolima, por exemplo.) Respondi que, se o Ganso jogasse, acompanharia o jogo do Santos. Já sei que Lucas vai dizer que eu virei paulista e tal, paciência. A gente cria um filho com tanto amor e carinho, pra depois ficar ouvindo esse tipo de injúria. Coisas da vida e vamos em frente. À noite, quando me despedia aqui na agência do palmeirense Kride, perguntei a ele sobre o horário do Palmeiras. Kride respondeu que seria às vinte e uma e cinquenta, mas que ele assistiria ao jogo do Santos pra ver o Ganso. Antes de ser acusado de qualquer coisa, faço questão de deixar claro que não quero comparar nada, mas lembro daquele Santos da minha infância que às vezes mandava seus jogos no Maracanã – isso mesmo, no bom e velho Maraca – e arrastava multidões de cariocas que torciam pro Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, mas que não abriam mão de ver craques jogando bola. Claro que ontem à noite, tanto pra minha escolha quanto para a escolha do Kride, foi fundamental a falta de peso dos bisonhos Fortaleza e Uberaba, mas se o Ganso não jogasse ambos assistiríamos aos nossos times. Ganso não jogou bem. Mas, mesmo não jogando bem, ainda assim ele é melhor do que noventa e cinco por cento dos meias de ligação dos times de futebol do mundo inteiro. 
Libertadores é mesmo um caso à parte. Vendo o Colo-Colo jogar com aquela raça, aquela velocidade e aqueles dois atacantes – Miralles e Paredes – infernizando a vida da zaga santista, ninguém seria louco de afirmar que há três ou quatro rodadas esse time era o lanterna do campeonato chileno, e hoje ocupa a nona colocação. Padrão Avaí, Atlético Goianiense, por aí. Mas como é Libertadores, o bicho pega, a não ser no caso do Jorge Wilstermann. Aí é dose. 
E o Tolima, hein, gente? Pois é, o Tolima.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Campeonato Pernambucano faz sua estreia – e, provavelmente, sua despedida – no blog.
Desde que o Jaime me passou um link com a torcida do Sport atazanando a vida dos jogadores do clube, fiquei curioso pra ver alguma coisa do futebol pernambucano. Sábado o PFC abriu o sinal do jogo entre Santa Cruz (time do coração do grande Heitor Pontes) e Salgueiro (representante da cidade onde tudo acontece). Mas a curiosidade não é pelo futebol em si, é quase que uma questão antropológica. Vou tentar explicar. No final do jogo, com o Santa Cruz vencendo por dois a zero, entrou em campo pra garantir a vitória um zagueiro chamado Everton Sena. Fiquei me perguntando o que leva uma pessoa a ter essa profissão: zagueiro reserva do Santa Cruz. Vamos continuar com o exercício antropológico. O cara se apaixona por uma bela recifense, uma dessas que o Biza pegou agora no Carnaval – vale dizer que, com exceção da Anginha, em quem ele só tocou pra dar um jeito no cabelo, o Biza pegou todas –, aí o namoro engata, os dois decidem casar e o rapaz vai falar com o futuro sogro. Exercendo sua função de pai zeloso, o velho pernambucano pergunta ao candidato a genro: pois então, senhor Everton Sena, o que é que o senhor faz da vida? Sou zagueiro reserva do Santa Cruz. Alguma chance? 
Só não dá pra dizer que a temporada de dois mil e onze do futebol brasileiro começou sábado porque a seleção subvinte fez algumas coisas muito bacanas no torneio pré-olímpico. Mas não é exagero dizer que a temporada do futebol de clubes começou sábado, com a volta do Paulo Henrique Ganso. O jogo aconteceu na Vila, Santos e Botafogo de Ribeirão Preto, e o primeiro tempo foi bem embaçado, sem que o time santista encontrasse um jeito de chegar perto do gol. Ganso entrou no intervalo, e em dez minutos o jogo tava resolvido. Há algumas décadas o futebol brasileiro não revela um jogador igual a ele. Talvez não seja o melhor de todos, até porque sempre revelamos muita gente boa e aí começaria outra discussão interminável, mas no estilo dele, fazendo essa função de maestro e organizador, há muitos anos não surgia ninguém parecido. 
Ontem, pouco depois das quatro da tarde, liguei a tevê no jogo do Corinthians, mas quando vi o Moradei correndo pela lateral direita, pensei: aí não. Aí é demais. Gostar de futebol tem limite. Mudei de canal e fui pro jogo do Vasco. A escalação do time era essa: Fernando Prass, Fágner, Cesinha, Dedé e Ramón, Eduardo Costa, Rômulo, Felipe e Bernardo, Éder Luís e Élton. Achei melhor tirar um cochilo e acordar só na hora do Fla-Flu. 
Só os clássicos salvam essa fase inicial e chatíssima dos campeonatos estaduais no Rio e em São Paulo. Além da rivalidade, os times entram em campo sabendo que a partida não vai decidir nada, não vai mudar nada, que todos estarão na fase final, então os jogos costumam ser disputados mas abertos. (No caso do Rio, em que o Vasco ficou fora da semifinal do primeiro turno, isso só aconteceu porque o time perdeu um monte de pontos para times pequenos. Não fosse isso, a derrota para o Flamengo não teria influência alguma.) Flamengo e Fluminense fizeram um jogo franco, mas bem fracote. No primeiro tempo o Fla foi melhor, no segundo tempo o Flu foi muito melhor. Mas nenhum dos dois, em seus momentos de superioridade, teve competência para apertar, sufocar, provocar o erro do adversário e chegar ao gol. O Flamengo desperdiçou várias oportunidades de ataque porque Ronaldinho jogou como um principiante: dominava, dava um drible e, em vez de fazer a bola correr, prendia pra dar outro drible. E o Fluminense ofereceu a derradeira aula da escola Muricy, tentando chegar ao gol de Felipe única e exclusivamente com bolas levantadas na área. Os dois times precisam melhorar muito para ambicionar algo no Campeonato Brasileiro. 
Achei feio. Estava mais do que na cara que Muricy não tinha no Fluminense o mesmo ambiente e o mesmo apoio do ano passado, mas depois do desastroso início de Libertadores, sair agora é deixar uma bomba-relógio pronta pra detonar em mãos alheias. Mesmo que o clima estivesse insuportável, ele deveria segurar a onda até o time ser matematicamente eliminado da competição. Pra quem fala tanto em ética e compromisso, seria mais digno.
Mal acostumado com Careca, Romário e Ronaldo, nunca achei que Luís Fabiano fosse o centroavante ideal para a nossa seleção. Mas é um tremendo reforço para o São Paulo e sua volta é mais uma ótima notícia para o futebol brasileiro. A única coisa que me intriga é o valor que o São Paulo vai pagar por ele: sete milhões e seiscentos mil euros, diluídos por quatro anos. Sete milhões e seiscentos mil euros é o preço que times europeus costumam pagar por zagueiros equatorianos. Só como referência: no ano passado, o Chelsea pagou vinte e dois milhões de euros pelo Ramires. É bom torcer para que não haja coelho algum escondido nesse mato. Se não houver, é um excelente negócio.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Como é bom jogar bola num clube que nada em dinheiro.
Vanderlei Luxemburgo acredita ter encerrado as discussões sobre a vinda ou não de Adriano para o Flamengo. Parece que estão chovendo centroavantes lá na Gávea. Não basta o Zico declarar que “teria sido melhor para o Flamengo não ganhar o Brasileiro de dois mil e nove”, agora temos mais um campeão da ética, um arauto da moralidade, um disciplinador pleno de credibilidade. Claro: se o Flamengo não ganhasse, certamente o Adriano teria se transformado num modelo de profissional, o Bruno não teria se metido na enrascada em que se meteu e, com tanta menina bonita no Rio, o Álvaro não teria se apaixonado pela ex-namorada recente do Léo Moura. E viva a mediocridade no comando do ataque rubro-negro. Se houver clima, volto ao assunto. Por enquanto, me contento em reproduzir aqui o texto publicado em 10.03.2011 no blog do Bruno Voloch. Aspas e itálico para ele:
“Se depender da Olympikus, o Flamengo deve esquecer o sonho de contar com Adriano novamente em seu elenco. A empresa, que bancou 80% dos salários do atacante em 2009, está com a verba comprometida para o ano de 2011. Atual patrocinadora de material esportivo do cube, a Olympikus ajuda ainda o Flamengo a pagar 50% dos R$ 400 mil que Deivid ganha por mes. Vale ressaltar que a Olympikus não está envolvida na parceria com Ronaldinho. A Traffic é a principal responsável pelo pagamento de R$ 1,3 milhão. O contrato da empresa com o Flamengo vai até dezembro de 2013.”  
Gente, eu vou reforçar, agora em caixa alta, para que não restem dúvidas: 
AQUELE RAPAZ QUE DE VEZ EM QUANDO ENTRA EM CAMPO COM A CAMISA NOVE DO FLAMENGO GANHA R$ 400 MIL POR MÊS. 
Se não morrer de indignação, o blog volta na segunda.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sambando com a bola no pé.
No sábado de Carnaval o São Paulo veio fazer uma visita à próspera cidade de São Caetano do Sul. Não riam, mas eu cheguei a pensar em ir ao glorioso Anacleto Campanella. Só que chovia, fazia um friozinho, Gabriel tava empolgado lá no Call of Duty, daí que achei melhor arquivar a ideia. Peguei uma coberta lá no quarto, estiquei as pernas no sofá e comecei a ver o jogo. Dagoberto que me desculpe, mas voltou a dar sono. Acho que a ausência do Fernandinho, a volta do Rodrigo Souto com sua lentidão contagiante e a fraqueza absoluta do São Caetano impediram o São Paulo de desenvolver a tal velocidade cantada em prosa e verso nas últimas partidas. Não valeu como teste. Entretanto, um alerta se faz necessário: não sei se foi por causa do Carnaval, mas o Lucas estava com um negócio no rosto que, do sofá de casa, sonolento e com algumas caipivodkas na cabeça, me pareceu ser uma bela de uma máscara. Tomara que eu esteja enganado. 
Semana passada, um dos assuntos da caixa de comentários do blog foi a quase sempre desastrada atuação dos nossos comentaristas. E o pior é que eles não perdem a mania de nos surpreender. Pouco antes do Fluminense iniciar sua coleção de resultados decepcionantes – eliminação para o Boavista, empate em casa com o Nacional de Montevidéu, derrota para o América do México –, Lédio Carmona afirmou numa das transmissões do SporTV que o ataque da seleção brasileira deveria ser formado por Neymar e Fred. Outro dia, em seu blog, Renato Maurício Prado procurava explicações para a queda do Fluminense, e em determinado momento falou no espetacular início de temporada do Fred. Pra começo de conversa: gosto do Fred. Sabe jogar, não é fominha, bate com as duas, cabeceia bem e seria muito bom vê-lo no comando do ataque do Flamengo. Mas nada disso dá ao Fred a condição de craque, coisa que ele não é e nunca vai ser. (Não é assunto para agora e nem pretendo atrair a ira da minha irmã aqui na terra e do meu pai lá no céu, mas penso o mesmo do Conca.) Entretanto, o que está em jogo nesse post não é o Fred e nem é o Conca: é a inexplicável inocência de dois macacos velhos da imprensa carioca. O início de temporada espetacular do Fred, a que o Renato Maurício Prado se referiu, aconteceu nos jogos contra Olaria, Bangu, Duque de Caxias, Macaé, Madureira e Cabofriense. No único clássico do turno, contra o Botafogo, Fred nada fez. E contra o Boavista marcou um daqueles que o blog inclui na categoria “gol Paulo Asano”. Pois foi exatamente esse Fred arrasador que Lédio Carmona julgou merecer a camisa nove da amarelinha. Os dois casos são indesculpáveis, mas o do Renato Maurício Prado é ainda pior: foi ele que lançou o conceito de “me engana que eu gosto” para definir os campeonatos estaduais. E agora, justo ele foi cair nessa. 
A abertura do segundo turno do campeonato carioca foi igual à abertura do primeiro: Flamengo, Fluminense e Botafogo venceram, e o Vasco perdeu. Numa continuação do post anterior, foi engraçado ver as opiniões do narrador João Guilherme e do comentarista Rafael Rezende antes de Vasco e Macaé. Eles exaltavam o bom momento do Vasco, agora sob a nova direção de Ricardo Gomes. Novo ímpeto, nova arrumação dentro de campo, novo comprometimento. Tudo isso baseado em três vitórias mais do que suspeitas: três a zero no Americano, nove a zero no América e seis a um no Comercial de Mato Grosso do Sul. Com dois minutos de jogo, quase que o Macaé abriu o placar com um chute do lateral Bill. Como o Vasco pouco produzia, o entusiasmo da narração foi diminuindo e já tinha virado pó no final do primeiro tempo, que terminou dois a zero pro Macaé. O primeiro gol foi de Luís Mário – sim, aquele que jogou no Corinthians, no Grêmio, no Botafogo, e nas três últimas temporadas esteve no Paysandu, no Criciúma e no ASA de Arapiraca. E o segundo gol foi de um meia com nome de remédio. Siston. Tiro e queda para os males do fígado. Não vi o segundo tempo e me arrependi: deve ter sido divertido o constrangimento dos dois apressados jornalistas. Se bem que esses caras dão nó em pingo d’água e sempre arrumam um jeito de dizer que futebol é assim mesmo, caixinha de surpresas, blablablá e coisa e tal. 
Na sexta-feira antes do Carnaval o atacante sueco Ibrahimovic, que joga no Milan, declarou ser ele o melhor jogador de futebol do mundo. Descontando o fato de que a declaração deve ter sido publicada fora de contexto, como gostam de fazer os repórteres esportivos, só há uma explicação: o cara pirou com a história do namoro do Piqué com a Shakira. Fica assim não, Ibra. Bola pra frente. Isso passa. 
Ainda na esteira do post sobre os falsos golaços: vocês já repararam que todo gol que o Messi faz é golaço? Claro que o cara joga bola, mas assim fica bem mais fácil ser eleito o melhor do mundo. O gol que ele fez contra o Arsenal, na terça-feira de Carnaval, foi muito parecido com um gol que Loco Abreu fez contra o Santos, no Brasileirão do ano passado. O gol do Loco Abreu foi gol. O gol do Messi foi golaço. Ora, façam-me o favor.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Jaime em festa.
Meu voto para o próximo Troféu Imprensa, categoria Comentarista de Futebol, já está decidido: Jaime Agostini. É coisa nossa. Mas o que vai, vai; mas o que vai, vem. Tirando a cegueira de não incluir o Zico na galeria dos grandes futeboleiros da história, e mais outras cento e oitenta idiossincrasias, o homem sabe tudo. Ontem à noite ele tuitou que o Muricy parece um boneco de posto, fazendo movimentos incontroláveis com os braços enquanto o time afunda em campo, sem qualquer alternativa tática razoável. Quem viu o jogo sabe que não há nada mais a ser dito. 
Resta ao Fluminense, agora, essa tolice completa cantada em coro por sua torcida, essa ilusão de “time de guerreiros”. Ou apelar para a benção do falecido João de Deus. Não há quem ganhe uma Libertadores ou um Campeonato Brasileiro, não há quem escape de um rebaixamento nas últimas rodadas, se não der o sangue em campo. São todos, portanto, times de guerreiros. Mas o nosso futebol tem a mania de criar e alimentar essas ilusões. (Jaime é testemunha: depois que a torcida do São Paulo inventou aquela história de “o campeão voltou”, o time nunca mais ganhou nada.) Hoje eu já andei lendo por aí que a esperança do Flu está em reviver o time de guerreiros. 
Se for apenas isso, creio que a esperança foi pro brejo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Acordando daquele futebol que dava sono.
“A equipe vem mostrando um futebol muito seguro, muito firme e gostoso de se ver. Porque, antigamente, muitas vezes você assistia ao São Paulo e dava sono.” 
Quem disse isso aí não fui eu. Não foi nenhum palmeirense, nenhum santista, nenhum corintiano roxo. Não foi nenhum torcedor ou comentarista carioca bairrista. Quem disse isso foi o Dagoberto, que faz esse ano sua quinta temporada pelo São Paulo, foi campeão brasileiro em 2007 e 2008, já defendeu o time sob o comando de vários treinadores e atuando em diferentes esquemas táticos. 
Quem lê o blog sabe que não tenho acompanhado com a devida atenção os jogos do São Paulo, mas como os elogios têm vindo de todas as partes, vou me policiar. Já havia perdido a paciência com Juan há muito tempo no Flamengo, apesar de reconhecer a história vitoriosa dele na Gávea, e vi muito marketing e pouco proveito na contratação do Rivaldo – dois motivos que talvez tenham me afastado das partidas do clube. Mas acho o Lucas um jogador sensacional, presença obrigatória na próxima convocação do Mano pra nossa seleção principal. (Nos jogos que vi do São Paulo esse ano, e que foram a chatice de sempre, Lucas estava na seleção subvinte.) Tenho certeza de que ele é o que está fazendo o time jogar de um jeito diferente. É dali que sai a velocidade, a agressividade, a objetividade, ou seja, tudo que não havia antes. 
É lógico que as ausências do Rodrigo Souto e do Fernandão também têm contribuído, mas creio que sem o Lucas o time ia continuar perseguindo o insuportável “futebol de resultados”. Além disso, tenho enorme simpatia por equipes que jogam sem um cara grosso e paradão lá na frente, e torço muito pra que elas deem certo. 
Agora, sem querer comparar nada e ninguém, o São Paulo precisa vencer as mesmas resistências e desconfianças que o Santos teve que superar no ano passado, e ganhar títulos. Até porque outro dia eu ouvi do PVC, num dos programas esportivos da ESPN, que o último título do Carpegiani como técnico foi o Campeonato Brasileiro de 1982 pelo Flamengo. 
Gente, é isso mesmo: de lá pra cá, sequer um estadualzinho, uma copinha do brasil, nada. Tá mais do que na hora.