Quartas-feiras emocionantes x domingos chochos.
A diferença entre os jogos eletrizantes do meio de semana e aquelas chatices que temos visto aos domingos tem nome: mata-mata. Falar em cima de suposições é fácil, mas me atrevo a dizer que, se fosse uma rodada perdida lá no meio de um campeonato por pontos corridos, o São Paulo teria enfiado uns cinco ou seis no Santa Cruz. Só que, no mata-mata, a coisa muda. A possibilidade de uma só noite de superação se transformar numa jornada histórica dá a jogos aparentemente despretensiosos um caráter épico. Mesmo nessa primeira fase da Libertadores, que ainda é por pontos corridos mas por ser muito curta não permite mais do que um erro grave, o bicho já começa a pegar. E que não me venham falar de planejamento, estrutura, CT e o cacete. Futebol é emoção e surpresa, quem gosta de resultados previsíveis deve acompanhar basquete ou vôlei.
Futebol é isso: até os seis minutos do segundo tempo, o Santos dava um show de bola; daí em diante, passou a dar um show de imaturidade e falta de comando. A situação ficou complicada. Levando em conta que o Colo-Colo deve ganhar do fraquíssimo Deportivo Táchira em casa, se o Santos perder para o Cerro Porteño tá fora, empate é mau resultado e vencer sem Neymar, Elano e Zé Eduardo não vai ser fácil. Acho bom a torcida santista não encher muito a paciência do Ganso, porque agora a esperança está toda naquela genial canhotinha dele.
Quando o Fluminense empatou em zero a zero com o Nacional de Montevidéu, no Engenhão, escrevi aqui no blog que o Boavista (da surfista cidade de Saquarema) era melhor que o time uruguaio. Reitero. O Nacional é horroroso, mas para o Fluminense jogar um futebol horroroso ainda tá faltando muito. Por falar em Fluminense, deixa eu esclarecer. Apesar de toda a rivalidade que sempre envolveu a dupla Fla-Flu, por motivos familiares eu não torço contra o Fluminense em campeonato algum, a não ser no Estadual – o que se explica por quase meio século de trauma. Até o último tricampeonato rubro-negro, o Fluminense era o clube com maior número de títulos cariocas. O Flamengo podia armar o time que fosse, obter vitórias inesquecíveis, levantar canecos memoráveis, mas sempre tinha um tricolor pra falar: é, mas quem é que tem mais estaduais? Com o último tricampeonato, essa história acabou. Entretanto, como a disputa permanece bastante parelha, a hegemonia nos estaduais ainda preocupa. O que me faz pensar seriamente que talvez seja melhor perder esse jogo contra o Botafogo no próximo domingo.
A partir do momento em que se viu desfalcado de seu artilheiro Rodrigo Souto, o Santa Cruz entendeu que não teria a menor chance de fazer gol no São Paulo, e entrou em campo valentemente decidido a segurar o zero a zero. Correu como nunca, lutou pra caramba, bateu pra valer, mas não tinha como. De qualquer forma, conseguiu fazer uma partida que, repetindo o parágrafo de abertura desse post, só é possível num mata-mata. Antes que os são-paulinos reclamem: achei injusta a expulsão do Lucas – embora também tenha achado muito rigorosa a expulsão do zagueiro pernambucano que fez o pênalti.
Não é apenas nos campeonatos estaduais que os pequenos sofrem. O pênalti contra o ABC foi maroto toda vida, e foi ele que tirou o Vasco do sufoco. Um daqueles pênaltis que, no tempo em que João Saldanha comentava os jogos na Rádio Globo e era interrompido para uma informação vinda de São Januário, ele dizia mais ou menos assim: “sei, deve ser pênalti a favor do Vasco, naquele gol que fica à esquerda das cabines de rádio, ali onde é meio escurinho, onde ninguém vê direito o que acontece.” Quase sempre acertava.