Pílulas do final de semana.
Espero que a partida de ontem contra o Santos tenha deixado claro para a torcida do São Paulo a diferença entre jogar com Fernandão e jogar com Ricardo Oliveira. Fernandão não é o clássico “homem de referência”, ou seja, um poste que empurra a bola pra dentro. É inteligente e habilidoso, mas é lento, não sai para as pontas, se movimenta pouco, facilita a marcação e oferece poucas opções ofensivas. Ricardo Oliveira mostrou o que é um centroavante de verdade, e olha que nem fez gol. Outra coisa: o que é que Ricardo Gomes e Sérgio Baresi tinham na cabeça com a insistência em deixar Dagoberto no banco? Pior: em muitos casos – pelo menos no tempo do Ricardo Gomes –, com Washington em campo. Até eu, que carrego a fama de ser um cara calmo e equilibrado, também perderia a cabeça. Além de ter jogado muito, Dagoberto ontem protagonizou uma cena reveladora do novo ambiente no clube. O Santos tinha acabado de empatar, quando o lateral Diogo tocou para o meio da área e Dagoberto enganou toda a zaga, deixando a bola passar por entre as pernas e largando Jean livre, cara a cara com Rafael. O lateral encheu o pé e isolou, perdendo um gol certo num momento crucial da partida. Para surpresa geral, o ranzinza Dagoberto correu pra cima de Jean e o abraçou efusivamente, como se ele tivesse completado pra dentro como deveria. Há muito tempo eu não via o São Paulo jogar assim. Mesmo nas temporadas mais vitoriosas, era um time sempre cheio de zagueiros, de volantes e de bolas levantadas na área. Nunca foi muito divertido, a não ser para os são-paulinos, ver o São Paulo jogar. Contra o Santos foi diferente. As bem-sucedidas mudanças promovidas por Carpegiani, na escalação e no clima, deixam no ar uma intrigante pergunta que os tricolores devem estar se fazendo: será que o São Paulo não estaria brigando pelo título, se Juvenal Juvêncio e Rogério Ceni não tivessem perdido tanto tempo brincando de ser treinadores? Agora é tarde.
Grêmio e Cruzeiro também fizeram um belo jogo. Impressionante como é diferente uma partida de futebol em que os dois times dispõem de bons meias. É outro esporte. Douglas tem o jeitão clássico de meia com visão de jogo, enquanto Montillo se parece mais um meia-atacante, pela agressividade. Ambos são ótimos. Outra coisa que não parece, mas influi: Grêmio e Cruzeiro têm, hoje, os dois melhores goleiros do Brasil, o que dá muito mais segurança a seus times. Óbvio que ambos podem falhar e falham, mas a gente percebe que os outros dez caras confiam plenamente neles. Será que é possível dizer o mesmo do Corinthians em relação a Júlio César e do Fluminense em relação a Fernando Henrique ou Rafael ou Ricardo Berna? Fábio ontem cometeu uma bobagem que será citada logo aí embaixo, mas fez ótima partida. E Victor é muito firme.
Não vi o jogo do Palmeiras, mas o time perdeu uma grande chance de dar uma encostadinha na turma da frente. Foi uma rodada em que nenhum dos cinco primeiros (Cruzeiro, Fluminense, Corinthians, Santos e Inter) conseguiu vencer. São Paulo e Grêmio fizeram a parte que lhes cabia, ganhando em casa. Mas o Palmeiras, justo o que tinha a tarefa aparentemente mais fácil, jogou dois pontos fora.
Jogador brasileiro é malandro demais. E malandro demais se atrapalha. Sábado, contra o Flamengo, o Inter dominava o jogo, apesar de não concluir, e não deixava dúvidas quanto a qual dos dois era mais time. Até que, num lance despretensioso, Juan levantou a bola na área direto para as mãos do goleiro Renan. Malandro, o zagueiro Índio deu um empurrãozinho maroto no Deivid, que não alcançaria aquela bola nem nos tempos em que corria. Mas zagueiro brasileiro é malandro, empurra, segura e cutuca sem ninguém ver e sem que seja necessário. Resultado: pênalti, um a zero Flamengo, e o Inter, que já entrara desinteressado, desistiu de vez do jogo. Melhor assim.
Teve malandragem também no Estádio Olímpico. O Cruzeiro vencia por um a zero e o primeiro tempo já estava nos acréscimos. Numa bola levantada para a área cruzeirense, o goleiro Fábio saiu e foi levemente tocado por Jonas, coisa de não dar nem pra sentir cócegas. Esperto, malandro e querendo ganhar tempo, Fábio caiu no chão, pediu atendimento médico, valorizou. Quando se levantou, o juiz Paulo César Oliveira deu mais um minuto de acréscimo. O Grêmio retomou a posse de bola, foi à frente e empatou. Vale mais uma vez o ditado: esperteza quando é muita vira bicho e come o dono.
As arbitragens andaram aprontando. Eu não teria dado pênalti de Índio em Deivid (a não ser por castigo), também não teria dado pênalti de Alex Silva em Neymar (se aquilo é pênalti, zagueiro nenhum pode marcar atacante nenhum dentro da área), o Cruzeiro teve um gol de Wellington Paulista mal anulado quando o placar estava um a um, e ainda houve os dois lances do Ronaldo contra o Guarani. À primeira vista também não achei impedimento, mas vendo melhor pude reparar: o Ronaldo estava em posição legal, mas sua barriga estava mesmo um pouco à frente.