sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Aceito propostas para nunca mais ver jogos do São Paulo. Quem se habilita?  
Quarta-feira, Corinthians e Fluminense foi chato. Cheguei a dar umas cochiladas. Tá certo que tem o inaceitável estado do gramado do Engenhão, tem o fato de o Corinthians estar no Brasileirão a passeio, mas o principal motivo da monotonia foi que os quatro caras responsáveis pela armação – Douglas e Danilo no Corinthians, Wagner e Thiago Neves no Fluminense – não jogaram nem pedra em santo. Pra falar a verdade, Wagner foi quem começou, de um jeito bisonho, o lance que terminou com o gol de Emerson, e Thiago Neves levantou a bola pra área no gol de empate do Fred, em mais uma linha de impedimento mal executada pela defesa do Corinthians (ver post publicado na última segunda-feira, 27 de agosto). Era um jogo que prometia, mas que acabou igual à minha conta no banco antes do dia trinta. Devendo. 
Surpresa alguma na goleada do São Paulo sobre o Botafogo. O São Paulo veio animado com a quebra do tal tabu no Pacaembu e o Botafogo sofre de indigência ofensiva crônica. No iníco do ano, o time tinha não sei quantos atacantes – Loco Abreu, Herrera, Caio, Maicosuel, Elkeson. Sobrou o Elkeson. Fica difícil. Mas o real motivo da vitória do São Paulo foi outro: a partida aconteceu na mesma hora do jogo do Flamengo. Essa é a fórmula para o São Paulo sair da seca. 
O que o futebol tem de mais bacana são, exatamente, as coisas inexplicáveis. Certos jogos, inexplicavelmente, podem mudar a história de um campeonato. Por exemplo: se o São Paulo ganhar o Brasileirão 2012, esse jogo certamente terá sido o do último domingo, contra o Corinthians no Pacaembu. A mesma coisa acontece com cada partida: uma jogada é capaz de alterar seu rumo. Ontem, em Volta Redonda, com quinze minutos de jogo o Flamengo vencia por um a zero e, apesar de muito cedo, o Sport já parecia conformado. Mas aí o Marllon, que todos sabemos ser um zagueiraço, da estirpe de um Luís Pereira, de um Amaral, de um Mozer, de um Ricardo Gomes, decidiu sair jogando pelo meio. Errou, como era de se esperar, o Sport empatou e o time de Dorival Júnior retornou aos piores tempos de Joel Santana. O Flamengo não tem quem arme as jogadas. Além disso, Negueba e Thomas, que vem cumprindo suas funções táticas de forma razoavelmente satisfatória, não têm agressividade alguma, não têm o mínimo de capacidade de conclusão, não assustam ninguém. Ou seja: quando o time faz um gol, isso precisa ser valorizado ao extremo. Quando o time consegue uma vantagem no placar, isso precisa ser encarado como a glória suprema. Não pode o zagueirinho jogar a vantagem no lixo do jeito que o Marllon fez ontem.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Clássicos mentem. 
Ainda bem que só há duas rodadas como a de ontem por ano, porque elas abalam qualquer casamento. Clássico é sempre clássico e dá vontade de ver tudo. Entretanto, apesar de quase sempre ser tenso e emocionante, um clássico normalmente não é o melhor indicador pra gente saber se um time está melhor ou pior, se agora engrenou de verdade. A rivalidade e a pressão fazem com que todos se superem e joguem de um jeito como não conseguem jogar nas demais partidas. Consegui assistir a quatro jogos. Tecnicamente, o melhor foi Corinthians e São Paulo. O mais emocionante foi Cruzeiro e Atlético. E o mais fraco foi Botafogo e Flamengo. 
Fluminense e Vasco fizeram um primeiro tempo ruim e um segundo tempo muito bom. Não adianta tapar o sol com a peneira: o Vasco segue sendo um time organizado e combativo, mas a perda de quatro jogadores importantes tirou muito da força que o time tinha no final do ano passado e no começo desse Brasileirão. Fágner, Rômulo e Diego Souza eram titulares absolutos, Allan era uma espécie de reserva-titular. A queda de produção era previsível, e não podia ser diferente. 
Botafogo e Flamengo tiveram muita vontade e pouca capacidade. Mais de noventa minutos com apenas uma oportunidade verdadeira de gol: a cabeçada de Liédson no travessão, já no finalzinho. Só. O time do Botafogo é mais hábil que o do Flamengo, Seedorf sobra, mas parece mesmo que Dorival Júnior conseguiu dar ao rubro-negro um padrão que só não se transforma em resultados melhores por causa das limitações individuais. 
O lance capital do jogo entre Corinthians e São Paulo aconteceu aos treze minutos do primeiro tempo, naquela bola que sobrou para o Emerson livre no meio da área e o chute só não entrou porque bateu num bolo de jogadores caídos quase na linha do gol e foi para escanteio. Dois a zero, ali, destruía o São Paulo e matava a partida. O resto a gente tá cansado de saber: começando o jogo daquele jeito, se você não mata, morre. Depois de vinte minutos apertado e assustado, o São Paulo soube pôr a bola no chão e foi muito bem. Lucas e Luís Fabiano são muito perigosos e o Corinthians se arriscou demais em sua aposta na linha do impedimento. Há muito tempo o Corinthians joga assim, e o bom uso da linha do impedimento ajudou o time a conquistar o Brasileirão do ano passado e a Libertadores desse ano. Portanto, nada a reclamar. Mas é preciso ficar esperto: Alessandro é um jogador com prazo de validade bem próximo do fim; Chicão é lento e há muito tempo tem sido salvo pela excelente dupla de volantes à sua frente. Perder um jogo ou outro por erro na aplicação da linha do impedimento é normal, e as conquistas recentes não dão ao torcedor corintiano o direito de reclamar, mas é bom começar a pensar em outra opção. 
O Campeonato Brasileiro é mesmo sensacional, mas esse ano ele tem apresentado um certo surrealismo. Semana passada tivemos o inacreditável gol validado mesmo com três lances consecutivos de impedimento. Ontem, acreditem, Leandro Guerreiro do Cruzeiro e Bernard do Atlético Mineiro foram expulsos depois de uma briga por causa de um pedaço de bolo. Juro. No futebol, volta e meia a gente fala que “aquele foi um jogo brigado”. Cruzeiro e Atlético foi uma briga jogada. Tenso toda vida, todo mundo chegando junto o tempo todo, e a torcida cruzeirense lembrando os mais complicados instantes da Libertadores. Em certo momento, se lixando para uma possível punição do clube quanto a mandos de campo futuros, os caras começaram a atirar coisas no gramado. Além de um monte de copinhos de água, teve relógio, celular e até um pedaço de bolo. Assim que a guloseima pousou ao lado da linha lateral, Bernard correu para recolhê-la, a fim de entregá-la ao juiz e pressioná-lo. Mas Leandro Guerreiro se antecipou e pisou na apetitosa fatia, destruindoa-a em pedaços. Um caiu por cima do outro, os dois se embolaram, foram separados e, sem se dar por vencido, Bernard ainda saiu catando as migalhas, para oferecê-las ao quarto árbitro. 
Uma rodada de gols bonitos. O primeiro gol do Fluminense contra o Vasco foi uma jogada coletiva muito bem construída. Uma aula de contra-ataque, coisa pra quem gosta de futebol bem jogado. Todo mundo esperando o lance ser armado para a conclusão do Fred e em nenhum momento ele tocou na bola, mas teve muita importância pela movimentação. E a conclusão de Thiago Neves acabou saindo no melhor estilo Bebeto. Golaço. Os dois gols de Luís Fabiano foram bem bacanas, mas eu ainda prefiro o primeiro. (No segundo, acho que ele esticou demais a bola na meia-lua em cima do Cássio e ficou meio sem-jeito para concluir. Deu sorte por ninguém do Corinthians ter chegado a tempo – a tal lentidão que eu falei aí em cima.) Mas no primeiro gol a jogada do Lucas foi perfeita e a conclusão foi de uma precisão admirável. Conheço dezenas de atacantes que, naquela situação, teriam dado uma pancada sem olhar, com grande chance de consagrar o goleiro. O chute de Leonardo Silva no primeiro gol do Atlético contra o Cruzeiro foi difícil e supreendente, e o gol de Ronaldinho foi maravilhoso, dominando na linha do meio-campo, arrancando em velocidade e terminando com um corte seco e a bola conscientemente rolada fora do alcance do goleiro. Lembrou Barcelona. 
Semana passada, Tite e Paulo André reclamaram muito de Neymar. Falaram que ele simula faltas o tempo inteiro, que se joga demais, que provoca desnecessariamente, e Tite chegou a dizer que “Neymar é um mau exemplo para o meu filho” – filho lá dele, Tite. Concordo com tudo, menos com essa bobagem referente ao exemplo pro filho, mas fiquei sem entender uma coisa: Tite é técnico do Corinthians e Paulo André é zagueiro do Corinthians. Em que time joga o Jorge Henrique? 
Andei ouvindo por aí que a Fifa finalmente confirmou o Palmeiras como campeão mundial de 1951. O Palmeiras é o único time de futebol do mundo que, quanto mais perde, mais títulos conquista.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A pergunta que não quer calar: será que o Atlético aguenta essa pegada até o fim? 
Nesse final de semana, resolvi prestigiar minhas origens e fiz o que não fazia há tempos: vi os quatro times do Rio em ação. Sábado o Fluminense teve muita dificuldade pra vencer o Sport, porque Magrão repetiu o que fizera contra o São Paulo e fechou o gol. Mas do mesmo jeito que nada podia ser feito naquele gol de Ademílson no Morumbi, não dava para impedir o gol de Samuel em Volta Redonda. Magrão e sua triste sina: mais uma vez, o melhor em campo; mais uma vez, derrota na bagagem. 
Eu não entendo por que o Abel Braga, um homenzarrão daquele tamanho, chora tanto. Pode ser que eu não tenha acompanhado o lance devidamente, mas sábado houve um choque feio entre o lateral-esquerdo Willian Rocha, do Sport, e o lateral-direito Wallace, do Fluminense, em que ambos foram pra dividida com muita velocidade e muita força, e Wallace levou a pior. Entrevistado na volta do intervalo, Abel perdeu a linha, disse que Wallace fora agredido, que era caso pra B.O., que o Willian Rocha é um jogador maldoso. Um chororô totalmente dispensável. 
Na hora de escolher o jogo das quatro da tarde de ontem, algo me dizia que o imprevisível Botafogo poderia aprontar pra cima do bicho-papão do campeonato. Faltou pouco. Parece que Santos e Corinthians foi mesmo bem legal, mas a decisão por Atlético Mineiro e Botafogo não me causou arrependimento. Jogaço. Eu tinha visto, na semana passada, o Atlético apertar o pescoço do Vasco e Ronaldinho comer a bola, mas ontem o Botafogo conseguiu ser mais cerebral e organizado em grande parte do jogo. Só que não há time que resista a uma defesa tão problemática. Seedorf e Andrezinho jogaram muito, mas isso foi insuficiente para barrar a velocidade, o entusiasmo, a competência e a sorte do Atlético. A questão é que, no Brasileirão, ninguém consegue ser veloz, entusiasmado, competente e sortudo do início ao fim. A conferir. 
Acho que os poderes de um técnico vão até certo ponto, mas preciso enfiar a viola no saco e reconhecer que Dorival Júnior tem feito coisas especiais com esse elenco do Flamengo. O time tem limitações individuais que não há treinador que resolva, mas está mais compacto, mais solidário e jogando com mais seriedade, apesar de inevitáveis recaídas do Léo Moura e do Renato Abreu. Não dá pra querer que o Flamengo vá muito além da faixa intermediária da tabela, mas pelo menos agora o que tem entrado em campo é um time de futebol. Fraquinho, é fato, mas um time. 
Esse ano eu já tinha visto, duas vezes, o Flamengo sair na frente do Vasco com gols do Vágner Love e tomar viradas em bolas espalmadas pelo goleiro Felipe para o meio da área. Estava na hora da forra, e ontem foi a vez do Fernando Prass. Acontece. 
Costumo reclamar muito dos nossos critérios de arbitragem, mas não gosto de falar de erros pontuais. Em campeonatos longos e equilibrados como o Brasileiro, erros pontuais ocorrem para um lado e para o outro, no domingo você é prejudicado, na quarta-feira você é beneficiado, e reclamar de um pênalti aqui ou de um impedimento ali é perda de tempo. Mas juro que não me lembro de ter visto um banderinha deixar de marcar três impedimentos seguidos – e fáceis, já que não foram bolas tão rápidas assim – numa mesma jogada. Ou o tal do Emerson Augusto de Carvalho é muito ruim, ou estava imperdoavelmente desatento.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Tudo o que um jogo de futebol não deve ser. 
Palmeiras e Flamengo faziam um jogo sofrível, como era de se esperar, e o Palmeiras mostrava um pouco mais de iniciativa, como tinha que ser. Até que o Ibson desequilibrou. Com duas jogadas desnecessárias e infantilóides, Ibson, que para alguns rubro-negros adquiriu o absurdo status de craque e não é mais que um jogador útil, foi expulso aos vinte e nove minutos do primeiro tempo. O Flamengo levou o gol aos trinta e dois, e o jogo acabou. Sofrível, arrastado, pobre e triste. Ademir da Guia e Zico, se tiveram o desprazer de assistir, devem ter tido uma síncope. 
O gol de Barcos serviu para provar, mais uma vez, a invejável expertise do Flamengo para jogar com laterais que não marcam ninguém. Ramón é apenas mais um da lista. E para confirmar a tendência, o único que marcava alguma coisa – Júnior César – foi dispensado. 
Palmeiras e Flamengo não foi uma partida violenta. Não me lembro de ter visto ninguém reclamando com veemência da arbitragem. Entretanto, o juiz Célio Amorim arrumou um jeito de aplicar catorze cartões amarelos – oito para jogadores do Palmeiras, seis para os do Flamengo. Tem alguma coisa errada aí, não tem não? 
Não vi São Paulo e Grêmio no fim de semana, quando o São Paulo perdeu em casa por dois a um. Não vi São Paulo e Náutico ontem, quando o São Paulo perdeu fora por três a zero. Só para deixar registrado.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O blog na mais fina companhia. 
Como sempre acontece, Tostão escreveu um grande texto hoje na Folha de São Paulo. Reproduzo as frases finais, que batem com o post de ontem desse humilde blog: 
“As marcas da mediocridade foram impregnadas na alma dos jogadores, técnicos e de parte da imprensa. Não adianta trocar de técnico, a não ser que surja alguém especial, romântico e racional, profundo conhecedor de detalhes técnicos, táticos, observador da alma humana e, ao mesmo tempo, corajoso, combativo e que não precisa gritar, se exibir e dizer que é tudo isso. Falta ao futebol um Zé Roberto.” 
Pra ler o texto completo – vale a pena – é só clicar aqui.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Muito mais grave do que perder a medalha de ouro é perder o nosso jeito de jogar.  
A medalha de ouro olímpica, para o futebol, não é tão importante quanto a mídia apregoa e a maioria de nós embarca. Cada modalidade tem seu grande momento e, diferentemente da natação e do atletismo, por exemplo, o grande momento do futebol não acontece nas Olimpíadas. Além disso, há um falso frenesi em torno dessa história de nunca termos ficado com a medalha de ouro. Por ser um fato, é indiscutível, mas vale contextualizá-lo.
Durante muito tempo, os Jogos Olímpicos não permitiam a participação de atletas profissionais. Isso obrigava países como Brasil, Argentina, Itália e Alemanha Ocidental a disputar o torneio olímpico de futebol com seleções de garotos, enquanto Hungria, União Soviética, Iugoslávia, Polônia, Alemanha Oriental e Tchecoslováquia entravam com seus times principais, já que os países do Leste Europeu não tinham, oficialmente, atletas profissionais. Essa distorção fez com que, de 1952 a 1980, os países do Leste Europeu – que jamais ganharam uma Copa do Mundo – conquistassem oito medalhas de ouro consecutivas. Portanto, contextualizar é preciso. 
O que me parece importante, e isso sim preocupa, é que Mano Menezes assumiu o comando da nossa seleção há quase dois anos e ainda não fez o time dar sequer um passo à frente. Não sei se Mano deve ou não sair e não vejo quem poderia entrar. Muricy? Felipão? E pra quem acredita em futebol de resultados, por que não o Tite? Então, vamos em frente. Pouco importa o nome, desde que se mude o conceito – o que, de resto, não conseguiríamos com nenhum dos três citados. 
Não sou um romântico dos gramados, acho que futebol tem que ser jogado pra ganhar e não conheço nada mais ingênuo do que acreditar que a melhor defesa é o ataque. Em futebol, todas as lições nos ensinam que a melhor defesa é uma boa defesa, o melhor ataque é um bom ataque e nada funciona sem um bom meio-de-campo. Simples. Por outro lado, todas as lições também nos ensinam que não há fórmula mágica. Você ganha, empata ou perde jogando mal, bem ou mais ou menos, jogando feio ou bonito. Se você escalasse o Alex Sandro no lugar do Hulk e isso garantisse a vitória, beleza. Só que não é bem assim. E já que você tanto pode ganhar quanto perder jogando feio ou bonito, o que justifica a escolha por jogar feio, com medo, sem ousadia? 
Não sei se é assim em todo lugar do mundo, mas tenho a impressão de que a desmedida importância que passamos a dar aos técnicos, de alguns anos pra cá, foi responsável por criar monstros. Se o cara adquire superpoderes, se o cara vira quase que um Deus, ele não pode chegar lá e fazer o simples. Se o cara ganha quinhentos, seiscentos, setecentos mil reais por mês, ele tem a obrigação de enxergar algo que só ele vê. Ele precisa ter a ideia genial de colocar o Alex Sandro no lugar do Hulk por uma questão tática e porque, diante do poder absurdo que passamos a atribuir aos técnicos, o planejamento tático é sempre mais importante do que os caras que o executam. 
Repito: não sou contra o Mano Menezes, até porque não sou tão a favor assim de nenhum outro, e acho que o buraco é muito, muitíssimo mais embaixo. O que precisa mudar é a filosofia, o jeito de encarar o jogo, o conceito. Vamos continuar ganhando aqui e perdendo ali, porque é assim que funciona e porque nunca houve um time que jamais perdesse. O que não podemos é abrir mão do nosso jeito de jogar. Seja quem for o centroavante, seja quem for o presidente da CBF, seja quem for o bendito técnico da seleção brasileira.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O mundo do esporte se curva aos pés de São Caetano. 
Era pra ter escrito um post ontem, mas me senti no cívico dever de seguir a carreata do Arthur Zanetti, aqui na gloriosa e medalhada cidade de São Caetano do Sul. Ginástica olímpica sempre mexeu comigo. Meu grande sonho é um canal de esportes desses aí lançar um pay-per-view de ginástica olímpica, pra eu poder acompanhar o Campeonato Intercolegial da Bulgária. 
À noite, já refeito de tanto orgulho e emoção, vi Fluminense x São Paulo, para constatar que o São Paulo é hoje mais um dos muitos times instáveis do Brasil. Se não fosse pelo Ademílson – olho nele, o garoto é muito rápido, sabe o que faz com a bola e dá um trabalho danado –, eu poderia pensar que era o Flamengo em campo. Goleiro estabanado (Rogério Ceni saiu todo sem jeito no cruzamento do primeiro gol, devolveu bola de canela e liderou um inacreditável festival de bateção de cabeças num atrapalhadíssimo lance no segundo tempo), zaga confusa, erros toscos na saída de bola, meio-campo sonolento. O São Paulo joga bem um jogo e no outro faz aquilo que a gente viu ontem. Como dizia meu pai, uma no cravo, outra na ferradura. 
Todo mundo sabe que o Fluminense tem dois times: o time A, quando joga o Deco, e o time B, quando Deco está fora. Ontem entrou o time B, mesmo porque o Vágner continua sendo uma decepção. Mas Jean jogou muito bem – a bola que ele botou na cabeça do Fred, no segundo gol, foi primorosa – e também gostei do Thiago Neves. Com ou sem Deco, o Fluminense tem time pra chegar no final brigando. 
Discordo de quem acha que Dorival Júnior vai ter tanto trabalho assim. O elenco do Flamengo é cheio de buracos, o time é fraco toda vida e não há mais tempo para contratar gente que chega e resolva. Ok. Mas a meta do Flamengo esse ano é outra, e isso me parece claro pra todo mundo. Dorival Júnior é técnico de futebol, e não o Pai Sérgio ou o Pai Bruno, que trazem a pessoa amada e prometem futebol de primeira em menos de três dias. Fazer o Flamengo disputar o título é impensável, pensar em vaga pra Libertadores é miragem, então está definido que o objetivo é não deixar o time cair pra segunda divisão. Ou seja: em vez de ter que chegar na frente de dezenove adversários, o trabalho de Dorival vai ser chegar na frente de apenas quatro. E como o Figueirense abriu boa vantagem na disputa pelo troféu de Ipatinga da vez, esse número cai para três. Fácil não vai ser, porque o time do Flamengo é ruim de verdade, mas é menos difícil do que parece.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Gripe e distância dos Jogos Olímpicos. 
A gripe me deu uma derrubada no fim de semana e sobrou tempo para atividades típicas de quem não deve sair de casa. Foi possível chegar à metade das quase seiscentas páginas de “As Correções”, de Jonathan Franzen, emprestado pelo chefe; pude pôr em dia os episódios atrasados de “Preamar”, da HBO; revi “Meia-noite em Paris”; me diverti acompanhando mais um capítulo da briga entre Obina e Índio, que já dura cinco anos, e vendo jogadores engraçados como Tufão e Wellington Paulista, que seria um ótimo reforço para o genial ataque formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. 
De Olimpíadas, quero distância. Tirando Usain Bolt – “que forma mais ma-lu-ca a desse homem!”, excitou-se o ex-velocista e comentarista bissexto André Domingos –, nada mais me interessou. E ontem fui dormir com a sensação de haver perdido milhões de coisas sensacionais, porque sintonizei o SporTV para acompanhar meu lanche noturno e de quinze em quinze segundos os especialistas citavam alguém que tinha feito história. Nunca achei que sentiria saudade dos comentaristas de futebol. 
Tudo que eu falei sobre Grêmio e Fluminense, há dez dias no Estádio Olímpico, serve para Vasco e Corinthians, ontem em São Januário. É impressionante como os nossos times mais importantes estão se especializando em fazer clássicos horrorosos. 
Palmeiras e Inter, no sábado, foi treino. De um lado, um time organizado, agrupado e compacto; do outro, só vontade. Sem Valdívia, que não é nenhuma coisa do outro mundo, mas ali faz uma falta danada, o Palmeiras fica bastante parecido com o Flamengo. 
Por incrível que pareça, dos três jogos que vi o melhor foi Cruzeiro e Ponte Preta. A Ponte conseguiu repetir aquela marcação forte e disciplinada que a fez eliminar o Corinthians nas quartas de final do último Campeonato Paulista, além de armar contra-ataques perigosos. O jogo foi movimentado e mostrou uma cena inédita: vaiado a cada lance pela torcida, depois de dois ou três erros tolos no meio-campo, o volante cruzeirense Charles passou a reger as vaias, como se pedisse mais. E ainda desafiou o técnico Celso Roth: “Se quiser me tirar, pode tirar”. Nunca tinha visto isso. 
O Flamengo está de parabéns, por ter conseguido passar pela rodada sem perder.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Futebol feminino, carniça, pique-bandeira e outros bichos. 
O grande craque do fim de semana foi meu neto Martin, a quem fui visitar no Rio e que está a coisa mais sensacional do mundo. Por conta disso, vi apenas alguns momentos de São Paulo x Flamengo – mais do mesmo – e nada a comentar. Nem o discutível otimismo da torcida do São Paulo, estranhamente empolgada com o retorno de um atleta de quase quarenta anos e feliz da vida por ter espancado um bêbado. 
Fora isso, não vi mais nada. Bom, tem as Olimpíadas. Ah, as Olimpíadas! 
Tinha lido no UOL, no dia da final da Libertadores, um post muito bacana do Caio Maia dando outra interpretação a toda essa onda em torno da torcida do Corinthians. Agora, com os Jogos Olímpicos atiçando o interesse do imenso Brasil pelas emocionantes competições de florete, Caio Maia publicou em seu blog mais um ótimo texto, sob o corajoso título “Futebol feminino é um saco”. Pra ler o post original do Caio, basta clicar aqui. E pra facilitar a vida dos mais preguiçosos, reproduzo o texto aí embaixo: 
Futebol feminino é um saco. 
Olimpíada começa e é aquele show de bizarrice: ping pong, arco e flecha, frescobol... Ainda que não esteja na Globo, todo mundo para para assistir taiquendô e depois cobrar: "um absurdo o governo não apoiar o taiquendô!". Claro, num país como o Brasil, que não precisa de nada, por que não despejar dinheiro em mais uma modalidade que três pessoas praticam? 
Mas o pior, sem dúvida, é o futebol. Um campeonato masculino ridículo, com um limite de idade arbitrário e inexplicável e uma ainda mais ridícula regra de exceção que permite três caras de qualquer idade jogando - parece que em alguns times africanos a regra permite mais que três, mas pode ser que eu tenha entendido mal esse pedaco. E, supra-sumo do pé no saco, tem também um torneio de futebol feminino. Que, como todo mundo sabe mas finge que não sabe, é chato pra cacete. Futebol de nível sub-17, mas se o sub-17 não tivesse goleiro. 
Aí o Brasil vai lá, ganha medalha e começa: "UM ABSURDO a CBF não apoiar o futebol feminino!". Como se alguém assistisse algum jogo de futebol feminino. Como se futebol feminino não desse menos audiência que propaganda eleitoral gratuita. 
Absurdo é o governo do Brasil, país com carências monstruosas, gastar dinheiro com esporte de alto rendimento. Ou então alguém achar que para não ser "machista" tem que fingir que futebol feminino é legal. Não é. Escritoras são legais, atrizes, presidentes de empresas e países do sexo feminino podem ser muito legais. Mulheres podem até demonstrar habilidade com a bola nos pés. Mas o jogo que elas produzem coletivamente é ruim. E chato. 
Desculpe se isso te ofende. Aliás, não precisa desculpar, não, você está se ofendendo com bobagem.