Clássicos mentem.
Ainda bem que só há duas rodadas como a de ontem por ano, porque elas abalam qualquer casamento. Clássico é sempre clássico e dá vontade de ver tudo. Entretanto, apesar de quase sempre ser tenso e emocionante, um clássico normalmente não é o melhor indicador pra gente saber se um time está melhor ou pior, se agora engrenou de verdade. A rivalidade e a pressão fazem com que todos se superem e joguem de um jeito como não conseguem jogar nas demais partidas. Consegui assistir a quatro jogos. Tecnicamente, o melhor foi Corinthians e São Paulo. O mais emocionante foi Cruzeiro e Atlético. E o mais fraco foi Botafogo e Flamengo.
Fluminense e Vasco fizeram um primeiro tempo ruim e um segundo tempo muito bom. Não adianta tapar o sol com a peneira: o Vasco segue sendo um time organizado e combativo, mas a perda de quatro jogadores importantes tirou muito da força que o time tinha no final do ano passado e no começo desse Brasileirão. Fágner, Rômulo e Diego Souza eram titulares absolutos, Allan era uma espécie de reserva-titular. A queda de produção era previsível, e não podia ser diferente.
Botafogo e Flamengo tiveram muita vontade e pouca capacidade. Mais de noventa minutos com apenas uma oportunidade verdadeira de gol: a cabeçada de Liédson no travessão, já no finalzinho. Só. O time do Botafogo é mais hábil que o do Flamengo, Seedorf sobra, mas parece mesmo que Dorival Júnior conseguiu dar ao rubro-negro um padrão que só não se transforma em resultados melhores por causa das limitações individuais.
O lance capital do jogo entre Corinthians e São Paulo aconteceu aos treze minutos do primeiro tempo, naquela bola que sobrou para o Emerson livre no meio da área e o chute só não entrou porque bateu num bolo de jogadores caídos quase na linha do gol e foi para escanteio. Dois a zero, ali, destruía o São Paulo e matava a partida. O resto a gente tá cansado de saber: começando o jogo daquele jeito, se você não mata, morre. Depois de vinte minutos apertado e assustado, o São Paulo soube pôr a bola no chão e foi muito bem. Lucas e Luís Fabiano são muito perigosos e o Corinthians se arriscou demais em sua aposta na linha do impedimento. Há muito tempo o Corinthians joga assim, e o bom uso da linha do impedimento ajudou o time a conquistar o Brasileirão do ano passado e a Libertadores desse ano. Portanto, nada a reclamar. Mas é preciso ficar esperto: Alessandro é um jogador com prazo de validade bem próximo do fim; Chicão é lento e há muito tempo tem sido salvo pela excelente dupla de volantes à sua frente. Perder um jogo ou outro por erro na aplicação da linha do impedimento é normal, e as conquistas recentes não dão ao torcedor corintiano o direito de reclamar, mas é bom começar a pensar em outra opção.
O Campeonato Brasileiro é mesmo sensacional, mas esse ano ele tem apresentado um certo surrealismo. Semana passada tivemos o inacreditável gol validado mesmo com três lances consecutivos de impedimento. Ontem, acreditem, Leandro Guerreiro do Cruzeiro e Bernard do Atlético Mineiro foram expulsos depois de uma briga por causa de um pedaço de bolo. Juro. No futebol, volta e meia a gente fala que “aquele foi um jogo brigado”. Cruzeiro e Atlético foi uma briga jogada. Tenso toda vida, todo mundo chegando junto o tempo todo, e a torcida cruzeirense lembrando os mais complicados instantes da Libertadores. Em certo momento, se lixando para uma possível punição do clube quanto a mandos de campo futuros, os caras começaram a atirar coisas no gramado. Além de um monte de copinhos de água, teve relógio, celular e até um pedaço de bolo. Assim que a guloseima pousou ao lado da linha lateral, Bernard correu para recolhê-la, a fim de entregá-la ao juiz e pressioná-lo. Mas Leandro Guerreiro se antecipou e pisou na apetitosa fatia, destruindoa-a em pedaços. Um caiu por cima do outro, os dois se embolaram, foram separados e, sem se dar por vencido, Bernard ainda saiu catando as migalhas, para oferecê-las ao quarto árbitro.
Uma rodada de gols bonitos. O primeiro gol do Fluminense contra o Vasco foi uma jogada coletiva muito bem construída. Uma aula de contra-ataque, coisa pra quem gosta de futebol bem jogado. Todo mundo esperando o lance ser armado para a conclusão do Fred e em nenhum momento ele tocou na bola, mas teve muita importância pela movimentação. E a conclusão de Thiago Neves acabou saindo no melhor estilo Bebeto. Golaço. Os dois gols de Luís Fabiano foram bem bacanas, mas eu ainda prefiro o primeiro. (No segundo, acho que ele esticou demais a bola na meia-lua em cima do Cássio e ficou meio sem-jeito para concluir. Deu sorte por ninguém do Corinthians ter chegado a tempo – a tal lentidão que eu falei aí em cima.) Mas no primeiro gol a jogada do Lucas foi perfeita e a conclusão foi de uma precisão admirável. Conheço dezenas de atacantes que, naquela situação, teriam dado uma pancada sem olhar, com grande chance de consagrar o goleiro. O chute de Leonardo Silva no primeiro gol do Atlético contra o Cruzeiro foi difícil e supreendente, e o gol de Ronaldinho foi maravilhoso, dominando na linha do meio-campo, arrancando em velocidade e terminando com um corte seco e a bola conscientemente rolada fora do alcance do goleiro. Lembrou Barcelona.
Semana passada, Tite e Paulo André reclamaram muito de Neymar. Falaram que ele simula faltas o tempo inteiro, que se joga demais, que provoca desnecessariamente, e Tite chegou a dizer que “Neymar é um mau exemplo para o meu filho” – filho lá dele, Tite. Concordo com tudo, menos com essa bobagem referente ao exemplo pro filho, mas fiquei sem entender uma coisa: Tite é técnico do Corinthians e Paulo André é zagueiro do Corinthians. Em que time joga o Jorge Henrique?
Andei ouvindo por aí que a Fifa finalmente confirmou o Palmeiras como campeão mundial de 1951. O Palmeiras é o único time de futebol do mundo que, quanto mais perde, mais títulos conquista.