Darci, a secretária da J.W. Thompson.
De oitenta a oitenta e dois, quando a maioria dos poucos porém decentes leitores do blog sequer tinha nascido, trabalhei na Thompson Rio, num belíssimo casarão ali na Rua São Clemente, quase em frente a um clube chamado Gurilândia. (Ainda existe o Gurilândia?) O Brasil, a propaganda, o mercado, a Thompson, tudo isso era muito diferente, e a agência tinha um horário de saída bizarro: 17h30. Eu e Mônica – mãe dos incomparáveis Lucas e Nina – tínhamos casado há pouco tempo, morávamos ali perto e eu lembro que, durante o horário de verão, várias vezes eu saía da agência, pegava Mônica em casa e íamos aproveitar o finalzinho da praia. Era uma teta. A Thompson tinha uns funcionários antigos que não podiam ser mandados embora, pois não haviam optado pela CLT e suas rescisões custariam pequenas fortunas. Uma dessas pessoas se chamava Darci e era secretária do departamento de RTV. Às 17 horas em ponto, Darci parava de trabalhar – repito, no RTV, onde o pessoal costuma varar noites – e se dirigia ao banheiro para um retoque rápido na maquiagem. As 17h15 ela estava de volta, pousava a bolsa sobre a mesa, trancava gavetas e, impassível, aguardava que o relógio marcasse 17h30, quando impreterivelmente ia embora. Não sei se vocês repararam, mas o futebol brasileiro está cheio de darcis. Diego Souza, Elkeson, Casemiro, os caras jogam como se a profissão fosse um enfado, doidos pra chegar a hora de bater o cartão e ir embora pra casa. A Thompson do início dos anos oitenta e a Darci vieram à minha lembrança ontem, quando vi o Neymar correr atrás de um atacante do Guarani pra recuperar uma bola na lateral-direita do Santos, junto à risca de sua própria área. Além de um talento incomum, Neymar tem mais isso de bom: ele adora o que faz, quer jogar quarta, quinta, sábado, domingo, quer correr atrás da bola, quer ficar com ela, quer partir pro gol, quer decidir.
O reconhecido e insuportável mimimi que domina a arbitragem carioca estragou um jogo que estava indo muito bem. Luís Antônio da Silva Santos errou quando expulsou Lucas e ajudou a definir o campeonato do Rio. Fosse em qualquer outro lugar do mundo, a falta seria marcada e a partida seguiria sem problemas. Luís Antônio até poderia encostar no Lucas e alertar: “Garoto, abre o olho, você já tem o amarelo e outra dessas eu não vou aliviar.” Juiz não está lá única e exclusivamente para aplicar as regras do jogo, juiz precisa de equilíbrio e bom senso. Clube que mais investiu em reforços esse ano no futebol brasileiro, o Fluminense tem muito mais time que o Botafogo, entrou na decisão como favorito absoluto e jogou melhor. Não havia a menor necessidade do árbitro estragar tudo, apenas para mostrar que é a autoridade máxima em campo. Baixou o cabôco Héber Roberto Lopes.
Escalada fora de sua posição original – ela prefere correr pela lateral do campo, e ontem estava atrás de um dos gols –, a supergandula Fernanda Maia foi figura apagada ontem no Engenhão. Uma pena. O futebol brasileiro às vezes desperdiça seus grandes talentos.
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