segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cinco notinhas rápidas sobre o futebol no fim de semana. 
Como tenho assistido a muitos jogos do Corinthians e do Santos, por causa da Libertadores, ontem decidi deixar os dois de lado e acompanhei a partida entre o São Paulo e o valente catadão do Bahia (Fabinho, Titi, Gerley, Fahel, Lulinha, Ciro, ave-maria!). É estranha a sensação que o São Paulo provoca, ou pelo menos provocou nas partidas mais recentes que vi do time. A gente percebe que há bons jogadores e reposição aceitável nos casos de ausência dos titulares, mas sempre fica a impressão de que falta algo. A zaga não passa segurança, a armação das jogadas é lenta, os atacantes são egoístas, não existe vibração, não existe interesse. O filósofo e treinador de futebol de praia Neném Prancha dizia que “jogador de futebol tem que ir na bola como um faminto vai no prato de comida”. O São Paulo jogou ontem como se tivesse acabado de sair de uma feijoada. 
O atacante Marcos Júnior, do Fluminense, foi vice-campeão da Copinha desse ano. Já entrou no time, vem jogando com desembaraço, fez um dos quatro gols do Flu na final do estadual contra o Botafogo e ontem, contra o Figueirense, fez o primeiro gol e deu um ótimo passe para Wágner fazer o segundo. Pergunto: se Marcos Júnior foi vice em 2012 e já tá ajudando o time de cima, onde estão os atacantes do Flamengo que foram campeões em 2011 e, portanto, deveriam ter mais experiência? Até agora só vi o Negueba, que é um fanfarrão. Cadê o Lucas, que fez gol à beça? Cade o Adrian, que arrebentou? 
A torcida do Flamengo não vaiou Ronaldinho porque ele perdeu infantilmente a bola que deu origem ao gol de empate do Inter. A torcida do Flamengo vaiou Ronaldinho porque isto já aconteceu uma dezena de vezes. Ninguém aguenta mais. E segue o mantra: coitado do Vágner Love. 
Outro dia, na futebolística novela “Avenida Brasil”, o personagem de Marcos Caruso decidiu assistir à reprise da final da segundona do ano passado. Mais ou menos parecido com isso, ontem eu estava interessado em ver o Figueirense jogar. É uma doença, admito, mas convivo bem com ela há tempos. O fato é que eu queria ver como estava o time que fez muito boa campanha no Brasileirão 2011 – só desandou nas duas ou três rodadas finais – e esse ano perdeu cinco jogadores importantes: Bruno e Wellington Nem para o Fluminense, Édson Silva e Maicon para o São Paulo, Juninho para o Palmeiras. Pelo menos ontem o Figueirense fez um bom jogo e deu pinta de que pode voltar a incomodar. Continua bem armado e tem um meia-atacante, Roni, que me pareceu muito bom. 
Vocês sabiam que, no sábado, a seleção brasileira jogou? Eu não vi, mas o time fez três gols no primeiro tempo e tirou o pé no segundo, o que o técnico Mano Menezes achou muito natural. Quer dizer, então, que o time está definido. Que o Danilo, o Rômulo, o Oscar, o Hulk, o Leandro Damião, todos já garantiram suas titularidades e podem amarrar o burro na sombra. É isso? Porque, se não for, como é que o técnico tem a cara de pau de dizer que é natural? É seleção brasileira, cacete! Já escrevi várias vezes aqui no blog que detesto saudosismo, mas juro que, no tempo em que comecei a acompanhar futebol, seleção brasileira era muito diferente.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pasmem: o Juan pode ser campeão da Libertadores. 
Tá certo que o Léo já tem trinta e sete anos, mas Muricy precisa pensar melhor no que fazer ali na lateral esquerda. Qualquer ser humano com duas pernas e o mínimo de sanidade mental é mais útil que o Juan, caso raro de jogador de futebol que erra tudo o tempo todo. É pra chutar, ele cruza. É pra cruzar, ele dribla. É pra driblar, ele toca. É pra tocar, ele chuta. Juan saiu, o jogo mudou. No lance do gol, Léo começou a jogada, empurrou pro Ganso, se apresentou na área, recebeu de volta, serviu Alan Kardec. Ou seja: fez o que tinha que ser feito. Não é possível que seja tão difícil. 
O Velez Sarsfield tem dois bons jogadores, Martinez e Fernandez. Fora isso, é um time que se defende com competência, e só. Entretanto, o Santos não conseguiu jogar bem em nenhuma das duas partidas com o Velez, o que explica a derrota lá e a esquálida vitória aqui. Ok. Mas se a gente analisar friamente, mesmo jogando mal o Santos ontem teve mais oportunidades de gol – pelo menos quatro, claríssimas – do que o Corinthians, o Vasco, o Fluminense e o Boca Juniors. Nós já criamos uma expectativa em relação ao Santos que aumenta demais nosso nível de exigência. O bacana é que agora o bicho vai pegar. Os dois jogos entre Corinthians e Santos vão fazer São Paulo parar. 
Nas oito partidas das quartas de final da Libertadores, nenhum time conseguiu fazer mais de um gol em jogo algum. Espero que isso sirva para convencer quem ainda acredita que o critério do “gol fora vale dois” estimula o futebol ofensivo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ainda bem que meu time tá fora, porque essa Libertadores tá de matar. 
Ano passado, Ronaldo Fenômeno participou da transmissão, pela Globo, de uma das muitas partidas entre Barcelona e Real Madrid. O início do jogo estava embaçado, com o Real marcando muito, totalmente concentrado, e o Barça sem conseguir entrar. Mas lá pelos trinta minutos do primeiro tempo a coisa foi voltando ao normal, e começou o baile. Ronaldo, que sabe das coisas, foi certeiro: “Ninguém consegue jogar o tempo todo do jeito que o Real Madrid começou a partida.” O curioso é que, por mais que vejam jogos aos domingos e às quartas e que discutam futebol a semana inteira, nossos narradores, comentaristas e – sobretudo – torcedores não conseguem entender isso. Volta e meia você escuta esse tipo de papo: mas por que não manteve o ritmo? Por que recuou? Por que mudou o que estava dando certo? Ora, simplesmente porque é impossível. Desfalcado de seus três melhores jogadores na temporada – Deco, Fred e Welington Nem – o Fluminense entrou ontem contra o Boca correndo uma barbaridade, marcando no campo todo, sem deixar o Boca respirar. Não havia outra opção, mas ninguém suporta aquilo por muito tempo. Ou o Flu fazia o resultado no período de sufoco, ou não ia aguentar. Não aguentou. Fora isso, outro detalhe a considerar é a escolha do elenco montado pelo clube. Na verdade, esse tal elenco cantado em prosa e verso (os derramados elogios de Paulo César Vasconcelos na final do estadual contra o Botafogo chegaram a irritar, de tão exagerados e repetitivos) tem um problema que ontem foi fatal: a fragilidade física dos dois principais nomes. Vejamos de outra forma. Vamos imaginar que um time qualquer – o Bangu, por exemplo – contrate Adriano, Jóbson, Carlos Alberto e Ronaldinho Gaúcho para uma competição relativamente curta. O time vai seguindo, chega à semifinal e ganha. Só que, aí, os caras resolvem comemorar. Setenta e duas horas consecutivas de festa na casa do Adriano emendados com um pagode no Candongueiro varando a madrugada, daí para os embalos chez Ronaldinho Gaúcho etc. Chega o dia da final, o time está um bagaço e perde. Vai reclamar de quê? Ao armar o time com esses caras, o Bangu não sabia que isso ia acontecer? Todo mundo sabe que Fred e Deco são jogadores que não têm mais a condição física necessária para o tipo de futebol que se pratica hoje, e montar um time apoiado no talento dos dois é uma temeridade. Aí vêm os jogos decisivos, os caras ficam de fora e não há o que fazer. Além disso, tem o Thiago Neves, né? Ele ontem confirmou o que eu sempre pensei dele: é um extraordinário jogador para a disputa de campeonatos estaduais. 
Já elogiei várias vezes, aqui no blog, a disposição e o espírito de luta de Corinthians e Vasco. Não são dois times exatamente talentosos e ambos estão com problemas sérios no comando do ataque. O Corinthians, desde que Liédson parou de jogar; o Vasco, desde sempre, já que Alecsandro nunca jogou. Logo aos três minutos a gente teve uma amostra do que seria a partida. Houve uma falta a favor do Vasco a dois palmos da linha do meio-campo e bem junto à lateral, mas mesmo assim Juninho foi pra cobrança e os zagueiros vascaínos correram pra grande área. Assistindo ao jogo, relaxadão após a classificação do Palmeiras para a semifinal da Copa do Brasil, Felipão deve ter tido seguidos orgasmos. No segundo tempo, como sempre acontece – ver parágrafo acima – a marcação deu uma afrouxada, as chances começaram a surgir e o jogo foi de uma tensão deliciosa, cujo auge aconteceu naqueles rápidos segundos em que, após a pixotada do Alessandro, Diego Souza partiu em direção à área carregando a classificação vascaína nos pés. É verdade que o Cássio deu uma aula de como um goleiro deve se portar numa situação daquelas, mas o Diego Souza – a versão cruzmaltina do Thiago Neves – poderia ter escolhido qualquer tipo de conclusão, mas tinha a obrigação de botar aquela bola no fundo da rede. Repito a pergunta que já fiz aqui: por que será que não se dribla mais goleiro aqui no Brasil? Hoje vou torcer muito pro Santos, porque se a semifinal for entre Santos e Corinthians, vai ser espetacular. 
Deus me livre de praga de rubro-negro. No primeiro turno do Brasileirão de 2009, o Coritiba humilhou o Flamengo com uma goleada de cinco a zero. No final, o Flamengo foi campeão e o Coritiba foi rebaixado. Não muito depois de comandar o América do México na eliminação do Flamengo da Libertadores em 2008, sapecando três a zero no Maraca, Cabañas foi baleado na cabeça. Só voltou a jogar bola agora, num time da segunda divisão do futebol paraguaio. No início desse ano, Alex Silva deixou o Flamengo na mão às vésperas da partida contra o Real Potosí pela fase pré-grupos da Libertadores. Na última semana, jogando pelo Cruzeiro, Alex Silva sofreu uma contusão que deve deixá-lo fora dos campos até o ano que vem. Soube que houve festa em metade da cidade do Rio de Janeiro quando o Emelec fez aquele gol nos acréscimos, contra o Olimpia, eliminando o Flamengo da atual Libertadores. A réplica veio ontem, com a sofrida queda de Vasco e Fluminense no mesmo dia, um imediatamente após o outro e com uma boa dose de crueldade, pelos gols sofridos nos últimos minutos. Festa na outra metade da cidade.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A final da Champions League na impagável transmissão da ESPN. 
O primeiro tempo de Bayern de Munique e Chelsea foi bem menos emocionante que o leilão de gado das Fazendas do Basa, transmitido na mesma hora pelo Canal Rural. Eu não parava de fazer, a mim mesmo, a pergunta que fiz ao meu filho no ótimo blog dele sobre economia (economiamarginal.blogspot.com.br): economicamente, qual a razão de um time gastar uma fortuna incalculável com alguns dos jogadores mais caros do mundo, pra botar os onze em baixo do próprio gol? Ora, se é pra lavar dinheiro, que se lave com um time bacana, que jogue o jogo, que justifique o fato da gente ligar a tevê pra ver uma partida de futebol. Há muito tempo adotei um critério para escolher um dos times em campo, quando não tenho preferência: torço contra quem tem um poste jogando de centroavante. Isto me faria sempre torcer contra o time do Mario Gomez, mas é impossível alimentar qualquer simpatia por quem joga como o Chelsea jogou nas duas partidas com o Barcelona e nessa final com o Bayern. Apesar dos últimos dez minutos empolgantes no tempo normal e do pênalti defendido pelo Cech na prorrogação, o que o jogo teve de mais interessante foi a transmissão da ESPN. Por pertencer à Disney, imagino que a ESPN não conviva com problemas financeiros, mas mandar os caras à Alemanha pra ficar dizendo aquele monte de sandices é algo que não consta do manual de nenhuma empresa que se preze. PVC sentiu falta do Luiz Gustavo, no meio-campo do Bayern, porque isso mataria o contra-ataque do Chelsea. Só que em momento algum o Chelsea se mostrou interessado em contra-atacar. O comentarista estava tão perdido que, numa final disputada em uma partida só, afirmou que o zagueiro Cahill tinha ido muito bem no jogo de ida. E o Trajano? Acho divertidas as participações dele no programa Linha de Passe, entre outras coisas porque não entende bulhufas de futebol e é um cara inteligente. Mas ser enviado à Alemanha para comentar a decisão da Champions League é sinal de muito dinheiro sobrando. 
O Flamengo está num dilema que já vem desde janeiro do ano passado. Dificilmente faz um gol sem que a bola passe pelos pés do Ronaldinho, e a verdade é que, apesar de ser um time inseguro e nem um pouco confiável, até que o Flamengo faz bastante gol. Na fase de grupos da Libertadores, por exemplo, só fez menos que o Nacional de Medellin e o Corinthians. Por outro lado, está cada vez mais claro que, com Ronaldinho em campo, é impossível organizar o time taticamente. O Flamengo fez um péssimo jogo contra o Sport e só não perdeu porque Paulo Vitor fechou o gol – o que também não nos anima muito, já que em breve Felipe deve voltar ao time titular, ele e suas inseparáveis luvas de madeira. O time se reforçou com as dispensas do Willians e do David Braz, mas o Magal é melhor que o Júnior César? O Welinton continua sendo nosso quarto-zagueiro? O desabotinado Bottinelli vai continuar armando nossas jogadas? Repito o mantra: coitado do Vágner Love. 
No domingo sem motivação, com os principais candidatos ao título do Brasileirão preocupados com Libertadores ou Copa do Brasil, o que houve de melhor foi o Herrera se negando categoricamente a escolher musiquinha por ter feito três gols. Fantástico.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O gol average é minha esperança. 
Nenhum de vocês é dessa época, mas já houve um tempo em que o gol average servia como critério de desempate. Era aplicado em campeonatos longos ou em fases classificatórias, como as fases de grupos da Copa do Mundo, da Libertadores etc. Funcionava assim: quando havia empate em número de pontos e em saldo de gols, dividia-se o número de gols marcados pelo número de gols sofridos. 
Passemos ao quadro-negro (se o leitor for do Rio) ou à lousa (se for de São Paulo). Vamos supor que, numa fase de grupos da Libertadores, Cruzeiro e Grêmio terminem juntos em segundo lugar, com o mesmo número de pontos e o mesmo saldo. Só que o Cruzeiro fez nove gols e sofreu cinco, enquanto o Grêmio fez sete e sofreu três. O gol average do Cruzeiro seria de 1,8, enquanto o do Grêmio seria de 2,3. Portanto, Grêmio classificado. Demorou, porque esses caras só são rápidos pra ganhar dinheiro, mas um dia a Fifa percebeu que esse critério incentivava o futebol defensivo – já que seria sempre mais negócio fazer e levar menos gols – e acabou com a esquisitice. 
Assim como o gol average foi abandonado, tenho a esperança de que um dia aconteça o mesmo com esse esdrúxulo critério do “gol fora vale dois”. Uma das regras básicas do futebol é a que determina que todo gol vale a mesma coisa. Feio ou bonito, de canela ou de bicicleta, gol é gol. Nenhum vale mais que o outro e fim de papo. 
Já tentaram me convencer que o critério obriga os visitantes a ser mais ofensivos, porque fazer gol fora vale muito. Tá bom. Quem viu os jogos, me responda: por acaso o Corinthians foi ofensivo contra o Emelec lá no Equador? O Fluminense foi ofensivo contra o Inter em Porto Alegre? Pelo contrário: tenho visto os times da casa cada vez mais cautelosos, porque tomar gol em casa virou a morte. 
Vou repetir o que já escrevi aqui há muito tempo: o critério do gol fora de casa é tão ruim, mas tão ruim, que na final da Libertadores ele é abandonado. É como se os caras dissessem: bom, até aqui foi só brincadeirinha, mas agora que chegou a hora da verdade, teremos prorrogação. 
Gol fora de casa valer dois é tão absurdo quanto definir o ganhador por causa do zagueiro com o penteado mais exótico ou do atacante que comete menos erros de concordância na entrevista coletiva. 
Vasco e Corinthians foi um jogo razoável. Teria sido bem melhor se não fosse essa maldita aberração do gol fora de casa.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Rapidinhas sobre as oitavas da Libertadores. 
Não podemos confundir as coisas. A passagem do Emelec da fase de grupos para as oitavas foi emocionante e épica, mas o time é uma bosta. Futebol tem isso. Há jogos sensacionais e vitórias inesquecíveis até na quarta divisão, como havia nos Campeonatos de Pelada do Aterro do Flamengo, patrocinado pela Caderneta de Poupança Delfin, e também nos empolgantes rachas aos sábados lá na Lauro Muller. Como eu não via chance do Emelec fazer um jogo minimamente interessante contra o Corinthians no Pacaembu, na quarta-feira preferi assistir a Lanús x Vasco. Sábia resolução. Jogo clássico de Libertadores: muita marcação, muita correria, muita milonga e muito pouca técnica. O Vasco fez um bom primeiro tempo, esqueceu de voltar para o segundo e, apesar da temerária decisão de mandar o Renato Silva cobrar um dos pênaltis, conseguiu seguir adiante. Corinthians x Vasco era um dos pegas que eu queria ver nas quartas. Nenhum dos dois está tão bem quanto esteve no ano passado, mas devem ser dois grandes jogos. 
Fluminense e Inter foi emocionante, mas a grande verdade é que foi um peladão. Havia bons jogadores em campo, mas nenhum esteve especialmente bem – o melhor foi o Oscar –, e o que mais chamou a atenção foram as falhas das duas defesas. E defesa errando o tempo inteiro é fatal em torneios como a Libertadores. De qualquer modo, foi melhor que o Fluminense tivesse seguido adiante do que se tivesse sido o Inter, um time que já desisti de tentar entender. O Inter que tenho registrado em minha cabeça sempre teve boa técnica – os extraordinários Falcão e Carpegiani, o zagueiraço Figueroa – e muita disposição. Um time de jogo intenso e, portanto, difícil de ser batido. Não sei quando e nem exatamente por que, há algum tempo o Inter se transformou num time pedante, que joga um futebol frio e com ar superior. Ganhou a Libertadores de 2006 e de 2010, ok, mas só perde para o Atlético Mineiro o lamentável título de grande clube brasileiro que está há mais tempo sem conquistar um Brasileirão – inacreditáveis trinta e dois anos. Não entendo a razão da empáfia. 
Teremos jogos sensacionais – Corinthians x Vasco, Fluminense x Boca –, mas tudo isso pareceu ficar menor e a grande pergunta é: existe na América do Sul algum time capaz de parar o Santos? 
Balanço das bolas paradas nas oitavas: Fluminense dois, Inter um. Fluminense classificado com dois gols de cabeça em lances de bola parada. Libertad dois, Cruz Azul zero. Libertad classificado com dois gols de cabeça em lances de bola parada. Tá ficando chato.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Darci, a secretária da J.W. Thompson. 
De oitenta a oitenta e dois, quando a maioria dos poucos porém decentes leitores do blog sequer tinha nascido, trabalhei na Thompson Rio, num belíssimo casarão ali na Rua São Clemente, quase em frente a um clube chamado Gurilândia. (Ainda existe o Gurilândia?) O Brasil, a propaganda, o mercado, a Thompson, tudo isso era muito diferente, e a agência tinha um horário de saída bizarro: 17h30. Eu e Mônica – mãe dos incomparáveis Lucas e Nina – tínhamos casado há pouco tempo, morávamos ali perto e eu lembro que, durante o horário de verão, várias vezes eu saía da agência, pegava Mônica em casa e íamos aproveitar o finalzinho da praia. Era uma teta. A Thompson tinha uns funcionários antigos que não podiam ser mandados embora, pois não haviam optado pela CLT e suas rescisões custariam pequenas fortunas. Uma dessas pessoas se chamava Darci e era secretária do departamento de RTV. Às 17 horas em ponto, Darci parava de trabalhar – repito, no RTV, onde o pessoal costuma varar noites – e se dirigia ao banheiro para um retoque rápido na maquiagem. As 17h15 ela estava de volta, pousava a bolsa sobre a mesa, trancava gavetas e, impassível, aguardava que o relógio marcasse 17h30, quando impreterivelmente ia embora. Não sei se vocês repararam, mas o futebol brasileiro está cheio de darcis. Diego Souza, Elkeson, Casemiro, os caras jogam como se a profissão fosse um enfado, doidos pra chegar a hora de bater o cartão e ir embora pra casa. A Thompson do início dos anos oitenta e a Darci vieram à minha lembrança ontem, quando vi o Neymar correr atrás de um atacante do Guarani pra recuperar uma bola na lateral-direita do Santos, junto à risca de sua própria área. Além de um talento incomum, Neymar tem mais isso de bom: ele adora o que faz, quer jogar quarta, quinta, sábado, domingo, quer correr atrás da bola, quer ficar com ela, quer partir pro gol, quer decidir. 
O reconhecido e insuportável mimimi que domina a arbitragem carioca estragou um jogo que estava indo muito bem. Luís Antônio da Silva Santos errou quando expulsou Lucas e ajudou a definir o campeonato do Rio. Fosse em qualquer outro lugar do mundo, a falta seria marcada e a partida seguiria sem problemas. Luís Antônio até poderia encostar no Lucas e alertar: “Garoto, abre o olho, você já tem o amarelo e outra dessas eu não vou aliviar.” Juiz não está lá única e exclusivamente para aplicar as regras do jogo, juiz precisa de equilíbrio e bom senso. Clube que mais investiu em reforços esse ano no futebol brasileiro, o Fluminense tem muito mais time que o Botafogo, entrou na decisão como favorito absoluto e jogou melhor. Não havia a menor necessidade do árbitro estragar tudo, apenas para mostrar que é a autoridade máxima em campo. Baixou o cabôco Héber Roberto Lopes. 
Escalada fora de sua posição original – ela prefere correr pela lateral do campo, e ontem estava atrás de um dos gols –, a supergandula Fernanda Maia foi figura apagada ontem no Engenhão. Uma pena. O futebol brasileiro às vezes desperdiça seus grandes talentos. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A gandula do Botafogo.
Por causa da expulsão de Vanderlei Luxemburgo no Gre-Nal e do primeiro gol do Botafogo contra o Vasco, a polêmica dos gandulas tomou conta da mídia. Aqui na agência não foi diferente. Mas depois de ver algumas fotos da gandula botafoguense Fernanda Maia, Kride sentenciou: “Não há o que reclamar. Essa gandula pode fazer o que bem entender.” Como só havia homens na conversa, ninguém ousou discordar. 
Outro assunto futebolístico que dominou as discussões pós-feriadão foram os cinco dribles consecutivos do Neymar no Piris. Achei muito estranho. O Piris não foi contratado porque tem no currículo a fama de ser o melhor marcador do Neymar na América Latina? A gente acredita no que quiser, né? 
Os grandes clubes brasileiros precisam mesmo apostar em jogadores de times menores. Isso faz parte da tradição do nosso futebol e já deu certo um monte de vezes. (Só de caras que foram titulares absolutos em seleções campeãs do mundo, temos Didi do Madureira, Gérson do Canto do Rio, Márcio Santos do Novo Horizontino, Mauro Silva do Bragantino, Lúcio do Guará de Brasília, Roberto Carlos do União São João de Araras, Ronaldo do São Cristóvão, Rivaldo do Mogi Mirim). Apostar é preciso, mas entre as apostas que não dão certo parece mesmo que precisaremos incluir o Paulo Miranda. Até aí, ok. Mas não me parece justo botar a culpa de tudo em cima do cara. O pênalti que ele fez no Alan Kardec foi ingenuidade, mas por que ninguém fala da bola boba que o Jádson perdeu na origem da jogada? Por que ninguém fala da bola que o Rhodolfo foi afastar e entregou de graça pro Ganso, no lance do segundo gol? O pior é que o São Paulo fez um bom jogo, mas quando o adversário é o Santos de Ganso e Neymar, você simplesmente não pode errar.
Libertadores tem que ser disputada de modo diferente. Libertadores exige raça, entrega e disposição. Libertadores é porrada o tempo inteiro. Libertadores isso. Libertadores aquilo. Meu irmão Mário está coberto de razão: tem horas que essa onda toda em torno da Libertadores enche o saco. Em nome de tudo isso, ontem assistimos a um jogo de baixíssima qualidade, com um time péssimo, que só tem um cara (Valência, atacante que atua com a camisa 14) que se aproxima do que pode ser considerado um jogador de futebol. Os outros emelequinos são tão jogadores de futebol quanto eu sou maquinista. Mas temos que aturar – afinal, Libertadores é assim. Só lembrando: quem ganhou a Libertadores do ano passado foi o Santos. Ganhou porque tem gente que sabe jogar bola.