Final em um jogo só.
Não costumo defender a europeização do nosso futebol. Aqui na América do Sul somos diferentes. Nosso continente inteiro fala apenas duas línguas, enquanto só nas quartas de final da Eurocopa tínhamos oito idiomas diferentes em campo. Não temos estudo, plantamos coca, elegemos caudilhos, temos salários mínimos na faixa dos duzentos dólares (um proletário torcedor do Jorge Wilstermann, da Bolívia, ganha mais ou menos isso). E mais: futebol é um esporte de massa, e esporte de massa em país pobre não pode ser encarado da mesma forma que em Munique.
Quando era moleque e vivia de mesada, cansei de ver jogos na geral do Maracanã, sem enxergar direito as linhas do campo e tendo que ficar embaixo das cabines de rádio, porque se ficasse em outro lugar o pessoal da arquibancada se divertia jogando certos líquidos na cabeça da gente. Aquilo era um lixo, mas era também extraordinariamente divertido.
Os primeiros minutos da decisão entre Flamengo e Atlético Mineiro, no Campeonato Brasileiro de 1980, assisti pelo basculante de um dos banheiros do Maracanã. Sorte que Nunes abriu o placar logo no começo, e na confusão da comemoração consegui um lugar na arquibancada. Se o negócio é ver jogo instalado numa poltrona de couro de renas russas, num espaço projetado por Philppe Stark, esse ingresso vai custar oitocentos reais. Isso, pra mim, não é futebol. Tá certo que levar copo de mijo na cabeça também é um exagero, mas nem tanto nem tão pouco.
Bom. Tudo isso pra dizer que, apesar de ser contra a europeização absoluta do nosso futebol, a gente precisa tirar o chapéu pra certas coisas. Uma delas é a decisão da Champions League, realizada em um jogo só e numa cidade definida bem antes do torneio começar.
Ontem, mais uma vez, ficou claro que final em dois jogos não funciona. Ou temos um primeiro jogo amarrado que não decide nada, ou o resultado do primeiro jogo transforma a segunda partida em amistoso – como aconteceu em 2007, quando o Boca fez três a zero no Grêmio, na Bombonera, e depois foi passear em Porto Alegre. Não dá sequer pra dizer se o resultado de ontem foi bom ou ruim pra um ou pra outro. Sei lá.
O que teve de bom, de verdade, foi o Romarinho. Não é qualquer um que faz o que ele fez, na hora em que ele fez e do jeito que ele fez.