segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Num campeonato como esse, só disputa o título quem joga sério o tempo todo.
Futebol é danado. Muitas vezes, detalhes decidem e uma jogada muda o jogo. O Flamengo jogava fácil, jogava bem, jogava muito melhor que o Grêmio e ganhava por dois a zero, quando, em vez de olhar fixo a bola, marcar em cima e travar André Lima, o péssimo zagueiro Welinton deixou o centroavante gremista girar e bater pro gol. Pior que isso: virou de costas na hora do chute. Era final de primeiro tempo, o Grêmio diminuiu pra dois a um, voltou mordendo no segundo e ganhou com sobras. Pra completar, alguém disse a Renato Abreu que ele é bom de bola. Não é. É um bosta. Um jogador que só tem utilidade se atuar sério o tempo inteiro, dividir firme e entrar com disposição em todos os lances, e não frouxo feito uma flor murcha como na caneta que levou de André Lima na jogada do gol de empate. A displicência e a ruindade do sistema defensivo rubro-negro explicam como o time consegue ter o ataque mais positivo do campeonato e apenas treze vitórias em trinta e duas rodadas. 
Depois do fiasco no Estádio Olímpico, precisava melhorar o amor próprio e decidi dar uma espiada em Atlético Mineiro e Palmeiras, na Arena do Jacaré. Santo remédio. Meu amigo palmeirense Gobato já comentou mais de uma vez comigo sobre o seu receio de rebaixamento. Nunca concordei, mas olhando a tabela e vendo o jogo de ontem passei a achar possível. A diferença ainda é grande, mas tudo leva a crer que fortes emoções aguardam a torcida palmeirense nas seis rodadas finais. 
A covardia dos nossos técnicos, que insistem em encher suas linhas de meio-campo com cabeçudos, explica o monte de gols que os times brasileiros tomam por erros de passe na saída de bola. Não dá para esperar muita coisa de Aírton, Willians e Renato Abreu, ou de Chico, Márcio Araújo e Tinga. E a teimosia em escalar verdadeiros bondes para o comando do ataque, com a estúpida desculpa de que o time precisa de um “homem de referência”, colabora pra deixar de fazer. Ontem, quando a partida ainda estava zero a zero, Fernandão (???!!!) do Palmeiras desperdiçou uma chance inacreditável. E na última bola do jogo no Serra Dourada, Marcão perdeu um gol mais feito ainda, garantindo a derrota do Atlético Goianiense para o Inter por um a zero. Mas os dois estavam lá, servindo de referência de como não se deve jogar futebol. 
O outro lado da história: quem viu Ceará e Fluminense pôde perceber o que um bom centroavante é capaz de fazer por um time. Fred largou Marquinhos na cara do gol, largou Rafael Sóbis na cara do gol, deu uma dificílima e linda cabeçada na trave, segurou os zagueiros, comandou o Flu e acabou com o jogo. Centroavante que não briga com a bola é outro papo. 
Por motivos óbvios, não acompanhei muitos jogos do Ceará no Brasileirão, mas nos três últimos que vi – contra São Paulo, Flamengo e Fluminense –, Fernando Henrique falhou em todos. Fernando Henrique é o goleiro brasileiro que mais toma frangos com a ajuda de Deus. Cada bola que pega, ele agradece fazendo o nome do pai três vezes; quando toma os frangos, creio que reclame em silêncio da ausência da Providência Divina. Caso único de goleiro que defende melhor com os pés do que com as mãos, trata-se de um baita de um enganador e populista, que adora jogar pra torcida. Quando o Fluminense descobriu isso e mandou-o pra longe, ele já tinha feito estragos tão grandes quanto os que agora perigam levar o Ceará pra segunda divisão. Em nome do pai. 
Ao contrário de muitos caras do Flamengo e do São Paulo, que se julgam craques e acham que jogam no melhor time do mundo, Corinthians, Vasco e Botafogo seguem dando o sangue dentro de campo, e ampliam sua condição de favoritos ao título. Já escrevi aqui, mas não custa repetir, que o único time brilhante do nosso futebol é o desinteressado Santos. Os outros têm que ralar. E as torcidas de Corinthians, Vasco e Botafogo não podem se queixar disso. Parece simples, mas pergunta pro Casemiro e pro Marlos se eles concordam. Pergunta pro Léo Moura e pro Renato Abreu o que eles acham. 
Apesar de não ter visto Corinthians e Avaí, é possível falar algumas coisas – não sobre o jogo, claro, mas sobre o time. O Corinthians está longe de ter uma qualidade excepcional, mas disputa suas partidas com muita seriedade. Mesmo jogando no Pacaembu e contra o penúltimo da tabela, não é fácil sair de um a zero contra para dois a um a favor, com um a menos em campo. E como não cansa de falar meu amigo Jaime, a diferença do time em relação aos demais está nos volantes. Mas tem uma coisa: a sofrida vitória de ontem deixou claro que essa história de tabela mais fácil é balela. Vai ter que correr do primeiro ao último minuto, comer grama, morder a trave. Como, aliás, o time tem feito desde o início do campeonato e não deixou de fazer nem mesmo nos tempos das vacas magras. 
Apesar de, mais uma vez, o São Paulo deixar clara sua falta de ofensividade, o jogo em São Januário foi legal. Ainda menos brilhante do que o Corinthians – mesmo com Felipe e Juninho em campo –, o Vasco joga com tanta vontade quanto e tem um fortíssimo sentido de conjunto. Claro que é estranho imaginar a faixa de campeão brasileiro no peito do Jumar e do Renato Silva, mas pode acontecer. Insisto na tecla em que tenho batido aqui: o São Paulo não tem feito maus jogos, mas a ausência de apetite é assombrosa. Ontem, que eu me lembre, houve apenas um bom chute do Carlinhos Paraíba no primeiro tempo, defendido pelo Fernando Prass, e depois uma jogada em que o Lucas escolheu mal o jeito de definir e perdeu a chance. É muito pouco. E por falar no Lucas, ah o Lucas. Outra partida bem apagadinha. O grande cara do São Paulo foi o goleiro Dênis, que fez uma ótima defesa em conclusão do Allan, uma sensacional defesa em cabeçada do Élton e uma terceira defesa que beirou o milagre em outra cabeçada do Élton. E assim, os quatro times que mais vacilam no campeonato (Fluminense, Flamengo, Inter e São Paulo) chegam à reta final disputando as duas últimas vagas na Libertadores. Nenhum dos quatro merece.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A discussão sobre o Atlético Mineiro volta a ser assunto.
O Thomas ontem tuitou um link do Mauro Cezar Pereira – um dos poucos caras que falam de futebol na televisão e que é possível ouvir – defendendo uma tese que ele, Thomas, já levantou aqui no blog: a da falsa grandeza do Atlético Mineiro. 
Pra mim é difícil reconhecer a suposta pequenez atleticana, porque vi esse clube ser grande toda vida. Faz tempo, é verdade, mas vi. Montou um time razoável que conquistou o primeiro título brasileiro em 71, montou outro um pouco melhor que perdeu a final de 77 nos pênaltis e montou um timaço sensacional que só não foi campeão em 80 por ter encarado na decisão uns caras que atendiam pelos nomes de Zico, Júnior, Carpegiani, Andrade, Tita e Júlio César. 
Seria simples dizer: ah, não ganhou, que se dane, quem é bom tem que ganhar e fim de papo. Calma aí. Futebol e merecimento são água e azeite, ok, mas nem por isso precisamos aprofundar as injustiças. Certas coisas têm que ser relativizadas, pra gente não ficar feito alguns corintianos que, numa comparação estapafúrdia, endeusam o Marcelinho Carioca e desdenham do Rivellino, porque o primeiro ganhou mais títulos pelo clube. Não vou me rebelar contra os fatos, mas eu queria ver o Marcelinho ganhar os títulos que ganhou jogando contra quem o Rivellino jogava: o Santos de Pelé. Repito: se não contextualizarmos, ampliamos as injustiças. Ou alguém tem dúvida de que o Atlético de oitenta seria campeão na maioria das outras edições do Brasileiro? 
O argumento do Mauro Cezar é bem montado, mas permite discussões. Levando o raciocínio do Mauro pro Rio de Janeiro: dos dez últimos títulos cariocas, só dois foram conquistados pelo Botafogo. Assim como o Atlético Mineiro, o clube também foi campeão brasileiro apenas uma vez, em 95, e chegou a mais duas finais (enquanto o Atlético chegou a mais três). Além disso, também passou uma temporada na triste segundona. O Botafogo é pequeno? Não, de jeito nenhum. 
Por outro lado, sou obrigado a admitir que não é por ter sido grande um dia que um clube será grande pra sempre. O Ameriquinha, do Rio, já foi grande. Ganhava títulos, revelava bons jogadores, impunha respeito. A Portuguesa de Desportos, aqui em São Paulo, idem. Tem uma hora em que o clube perde o freio e a descida da ladeira passa a ser inevitável, mas eu ainda não consigo ver o Atlético Mineiro nesse caminho irreversível na direção do inferno. 
PS: pra ler o artigo do Mauro Cezar Pereira, é só clicar aqui.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A luta continua, mas creio que Inter e São Paulo passam a brigar só por Libertadores.
O campeonato é um festival de altos e baixos, ok, todos erram, mas dois times se destacam pelo empenho com que se entregam à repetição dos erros: o Flamengo e o São Paulo. Se eu pegar o post escrito depois de Flamengo e Palmeiras, copiar, colar e apenas trocar o nome do Palmeiras pelo do Santos, tá tudo certo. No jogo de ontem, os quatro resultados favoráveis na rodada (derrotas do Botafogo e do Fluminense, empate do São Paulo em casa e o empate entre Inter e Corinthians) animaram o bando de Vanderlei Luxemburgo, que entrou correndo e tentando, esquecido de que, sem o Ronaldinho, empate é sempre um bom resultado. Seja contra quem for, seja onde for. Ontem, nem o escancarado desinteresse santista conseguiu fazer com que o time vencesse. E, por favor, não me venham o genial treinador e os abnegados dirigentes rubro-negros reclamar de arbitragem: o gol do Alex Silva foi mal anulado, é verdade, mas pouco antes Wellinton fizera um pênalti grosseiro no Neymar, que o juiz Paulo Henrique Bezerra só não marcou por causa da fama do craque – que, por sinal, mais uma vez comeu a bola. Não dá para entender como o Flamengo está onde está. Trata-se de um time que conseguiu a proeza de ficar dez jogos sem vencer, somando inacreditáveis cinco pontos em trinta possíveis. Entretanto, continua, pelo menos em tese, brigando pelo título. Coisas desse Brasileirão sensacional e surpreendente. 
Por falar em jogos sem vencer, o São Paulo já está há sete. Sendo que, desses, foram três empates no Morumbi em zero a zero. O gozado é que, resultado à parte – como se fosse possível isolar o resultado de um jogo de futebol –, chega a ser injusto afirmar que o time jogou mal, já que o principal nome da partida foi, disparado, o goleiro adversário. Vanderlei, do Coritiba, fez três ou quatro defesas sensacionais, Juan e Lucas perderam gols inadmissíveis, ainda no primeiro tempo, mas o time continua preguiçoso, despretensioso e frio. Como a gente tem visto desde os últimos tempos de Muricy e que, aparentemente, não há técnico que resolva. Talvez o Jaime tenha razão. Talvez a virada do ano seja mesmo o momento de jogar uma bomba e começar tudo de novo. 
Curiosamente, o Inter jogou melhor quando estavam onze contra onze. Depois da expulsão de Alessandro, o time passou a atuar de forma precipitada, perdeu toque de bola, ganhou afobação e só conseguiu fazer o gol em mais uma jogada de bola alta na área, coisa que a defesa do Corinthians continua com enorme dificuldade para neutralizar. O Inter tem um bom time, que ficou ainda mais forte quando aceitou que Bolívar e Índio já deram o que tinham que dar. Mas, ao contrário do Flamengo e do Vasco, está numa colocação bem abaixo das suas possibilidades. Deve pegar vaga na Libertadores, mas com nove pontos de diferença pro Vasco e sete para o Corinthians, o título já era. Tite errou na mexida de recomposição – poderia ter tirado logo o Liédson, que ainda não está cem por cento –, mas o inesperado empate foi muito importante. Menos pelo pontinho arrancado e mais pela moral que dá ao time. Não é fácil jogar contra o Inter. Não é fácil jogar contra o Inter no Beira-Rio. Não é fácil jogar contra o Inter no Beira-Rio e com um a menos durante todo o segundo tempo. Tem muita gente na briga, um jogo bom ou um jogo ruim pode virar o campeonato do avesso, mas, apesar da perda da liderança, continuo achando o Corinthians o candidato mais forte ao título. 
Não pensem que tenho implicância com o Vasco. Já disse aqui: tinha, e torcia abertamente contra, nos tempos do Eurico Miranda, mas depois que o homem caiu e eu vim para São Caetano, a antipatia acabou. O que acontece é que, mesmo contra todas as evidências, eu ainda não consigo olhar para o time do Vasco e enxergar força suficiente pra ser campeão brasileiro. Claro que tem coisas boas ali, e a principal delas é o sentido de conjunto. Tem mais: equilíbrio que a gente não vê no Flamengo, empenho que a gente não vê no São Paulo, menos pressão e expectativa do que a gente vê no Corinthians, mas sei lá. E tem aquela história que a gente costuma esquecer, mas que não pode ser desprezada no futebol: a questão do detalhe, a sorte e o azar. Ontem o Vasco foi indiscutivelmente superior ao Bahia, teve um gol de Diego Souza mal anulado quando o placar ainda estava zero a zero, mas deu uma sorte danada nas jogadas dos dois gols. As bolas bateram e sobraram. Só que é irreversível: tem uma hora em que as bolas vão deixar de bater e sobrar na cara do gol. Resta saber se isso vai acontecer antes ou depois do campeonato acabar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A empolgante e imperdível Copa do Mundo de Rugby. 
Quando Luciano do Valle começou a fazer toda aquela onda em torno do vôlei, alguns apressadinhos disseram que em pouco tempo o futebol seria ultrapassado como o esporte preferido dos brasileiros. Sarcástico como sempre, João Saldanha pedia calma à rapaziada e alertava que bastava um passeio de carro por qualquer várzea, nas manhãs de domingo, para constatar que o número de pessoas que jogavam futebol era infinitamente maior que o número de pessoas que assistiam ao vôlei, e comparar um com o outro chegava a ser covardia. 
O tempo passou, o vôlei brasileiro cresceu, a seleção masculina ganhou todos os campeonatos possíveis, a feminina ganhou alguns e amarelou na maioria, e a verdade é que, além daquela chatíssima torcida patrocinada pelo Banco do Brasil, quem mais vai a um ginásio ver vôlei? 
Bom. Fiquei curioso pra ver Nova Zelândia x Austrália, pela semifinal da Copa do Mundo de Rugby, depois de ler no twitter os comentários empolgados de alguns moderninhos. Vamos começar pelo haka, a coreografia com jeito de Village People que a seleção da Nova Zelândia executa antes das partidas. Quem viu “Invictus”, de Clint Eastwood, sabe do que estou falando. O que aparece ali, antes daquela final entre África do Sul e Nova Zelândia, não é uma liberdade cinematográfica do velho Clint: a seleção da Nova Zelândia realmente faz aquilo antes dos seus jogos. Juro. E pra quem não viu “Invictus”, eu explico. Imagine que Internacional e Bahia estejam em campo, prontos para decidir o Campeonato Brasileiro – como aconteceu em 1988. Aí, quando o juiz leva o apito à boca para autorizar o início da tão esperada decisão, os jogadores do Bahia começam a serpentear pelo gramado na levada do afoxé Filhos de Gandhi, enquanto, do outro lado, os do Inter dançam o vanerão. Haka é mais ou menos isso. Questões culturais. Sei. Acaba a dancinha, vamos pro jogo. 
A Nova Zelândia massacra a Austrália e o comentarista fala algo assim: “Se a Austrália não conseguir acertar a cobrança de lateral, não vai equilibrar a partida”. Como assim? A cobrança de lateral?! E tem início o festival de penalidades. Cansei de contar, mas acho que foram dez a favor do time da casa. É fato que o lugar de onde as penalidades são cobradas é meio esquisito, mas não tem barreira, não tem goleiro e o gol deve ser da altura de uma das ex-torres do World Trade Center. O cara vai lá, manda pra dentro e soma três pontos no placar. Quando eu penso que aquele gol do Neymar contra o Flamengo valeu um – depois de partir da lateral para o meio, passar por dois adversários, tabelar, dar um drible antológico no Ronaldo Angelim e encobrir o Felipe com um toque sutil –, acho que tem coisa errada ali. E no meio a muito cacete, narizes quebrados e bocas sangrando, nosso bravo comentarista declara que o time da Austrália é bastante habilidoso. É. Há que se ter uma habilidade danada pra jogar aquilo. 
Com a semifinal encerrada, fui dar uma olhada na internet e vi que, nessa Copa do Mundo, o jogo entre País de Gales e Fiji terminou 66 a 0, Inglaterra e Romênia foi 67 a 3, Nova Zelândia e Japão terminou 83 a 7, África do Sul e Namíbia foi 87 a 0. A Topper e a Talent que me desculpem, a campanha é genial, mas isso jamais vai ser grande no Brasil.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Só o São Paulo desafinou.
O Flamengo disputa esse campeonato com dois times diferentes. No primeiro tempo do jogo de sábado, contra o Ceará, entrou em campo o time A, com Ronaldinho Gaúcho. No segundo tempo, com a ridícula expulsão de Ronaldinho logo aos quatro minutos, vimos o time Z. No primeiro tempo, domínio completo e cinco ótimas chances de gol: Bottinelli, Thiago Neves, Alex Silva e duas com o Cagalhão Parrudo, que perdeu a mais fácil e fez a mais difícil. No segundo tempo, a única jogada de relativo perigo veio já nos acréscimos, num chute de Maldonado. A expulsão do Ronaldinho foi exagerada, mais um caso típico de um estilo de arbitragem que, muito também pela pressão da mídia, pretende transformar o futebol num jogo de delicadezas. Aquilo ali é normal, chega junto, chama os caras, dá amarelo pros dois e bola pra frente. Mas é óbvio que o principal culpado foi mesmo o Ronaldinho. Se toda vez que receber um pontapé, um agarrão ou uma cotovelada, ele reagir dando um chutezinho no adversário (foi chutezinho mesmo, desses que não machucam criança), obviamente ele se tornará o jogador mais fácil de ser provocado em todo o planeta. E aí acontece o que aconteceu no sábado: vão expulsos o Ronaldinho e o Heleno, o que faz a torcida rubro-negra temer que, em jogos futuros, sejam expulsos o Ronaldinho e o Carlinhos Paraíba, o Ronaldinho e o Moradei, o Ronaldinho e o Diguinho. Um papelão inadmissível pra quem já foi campeão mundial, campeão da Champions League e eleito duas vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA. E para encerrar o tópico rubro-negro, recorro ao advogado interpretado por Denzel Washington em “Filadélfia” e peço a alguém que me explique como se eu tivesse seis anos: por que será que ninguém provoca o Cagalhão Parrudo? 
Devia estar mesmo um calor do Senegal em Sete Lagoas, porque não deu para entender. O primeiro tempo de Cruzeiro e Corinthians foi corrido e brigado, enquanto o segundo beirou a chatice. Aliás, não foi a primeira vez que eu vi um time mineiro abrir o bico e entregar a rapadura na etapa final. Ou o desespero está fazendo os caras correrem acima do normal no início dos jogos, ou há um sério problema de preparação física que explica o péssimo momento dos três clubes de Minas. Mesmo aos trancos e barrancos – todo lateral que entra na esquerda se machuca, Liédson sem estar cem por cento, Emerson de fora –, o Corinthians vai levando o barco, e pode arrancar se as coisas se alinharem nas últimas rodadas. O problema é que essa é a esperança de todos os candidatos ao título. 
A história dos pênaltis marotos tinha melhorado, mas nesse domingo voltou com força total. Implico com eles, todo mundo sabe, mas ontem houve um certo exagero. Discordei do pênalti marcado contra o São Paulo, vi rigor excessivo nos que foram marcados contra Atlético Paranaense e Inter, e os pênaltis contra Fluminense e Corinthians foram dois absurdos completos. No pênalti a favor do Palmeiras, Martinuccio chegou a tirar o pé da jogada. E no pênalti a favor do Cruzeiro, Edenílson parecia um zagueiro de totó, fixo no chão, sem mover um dedo, e o juiz conseguiu ver falta no lance. Indiscutível, mesmo, foi o pênalti do goleiro Rafael em cima do André Lima, no jogo entre Santos e Grêmio. Só. O maior problema é que, num campeonato tão equilibrado, uma doideira dessas pode perfeitamente decidir a parada. 
Botafogo e Vasco tinham, na teoria, os jogos menos complicados entre os candidatos ao título. Quando a bola rolou, os dois puseram a teoria em prática e não deram chances aos decadentes atléticos. Não vi nada do Vasco, mas acompanhei alguma coisa do Botafogo. Domínio absoluto no primeiro tempo, um certo relaxamento no início do segundo, mas nada que pudesse assustar. Ninguém acreditava, mas olha aí o Botafoguinho chegando cada vez mais forte. 
Não fosse o São Paulo, essa teria sido a rodada mais desinteressante do Brasileirão. Todo mundo que briga pelo título venceu, menos o São Paulo. E se você quer saber por que o São Paulo perdeu, é só olhar os comentários que o Jaime costuma fazer aqui no blog. Apatia, falta de ambição, duas avenidas nas laterais, meio-campo sem um pingo de criatividade, Cícero sumido, Dagoberto pensando na vida, Lucas só na promessa, Rivaldo entrando pra nada. No primeiro tempo o time foi melhor, teve uma falta de sorte inacreditável no lance em que Rhodolfo, Xandão e Luís Fabiano mandaram seguidamente a bola na trave – estava zero a zero, e um gol ali mudava tudo –, mas no segundo tempo foi um horror. Não vi os fatídicos cinco a zero para o Corinthians, porque estava viajando, mas do muito que acompanhei do São Paulo esse ano, o segundo tempo de ontem foi o pior momento. O time do Atlético Goianiense é certinho e ligeiro, faz um campeonato muito acima das suas tradições e sugiro ao ilustríssimo professor Vanderlei Luxemburgo que pare com a mania de grandeza que o faz pensar somente no Vágner Love, no André, no Kléber, nesses caras que o Flamengo não pode pagar, e dê uma olhada no centroavante Anselmo. Ralf, Paulinho e Willian, do Corinthians, estão aí para provar que, muitas vezes, o barato pode ser a solução. Mas tem que arriscar, né?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cada vez embola mais. Cada vez fica mais bacana.
O São Paulo não vence há cinco rodadas, mas não se pode dizer que tenha jogado mal contra Corinthians, Botafogo, Flamengo e Cruzeiro. Pra quem gosta de ver futebol além do resultado, ficava a impressão de que a qualquer momento o vento ia virar e o tricolor poderia partir para o título. Mas contra o Inter, não. Contra o Inter, o São Paulo voltou a jogar muito mal e esteve bem mais perto de perder do que de ganhar. Faltou tudo ao time ontem e é difícil falar qualquer coisa de um jogo em que o grande Rivaldo protagonizou duas jogadas que o pequeno Carlinhos Paraíba assinaria com orgulho. Na primeira, foi tirar uma bola da área e deu um chute no companheiro João Filipe, obrigando Adílson Batista a substituir o zagueiro no intervalo. Na segunda, completou de canela pra fora, sozinho diante do goleiro, a única jogada que Luís Fabiano e Dagoberto conseguiram fazer em toda a partida. Sem contar com Leandro Damião, Oscar, Jô e Zé Roberto, o Inter entrou com sua capacidade ofensiva bastante reduzida, mas quase que D’Alessandro resolve a parada sozinho. E o time ainda teve o mérito de apresentar – pelo menos a mim, que não o conhecia – um excelente jogador. Se Rodrigo Moledo joga aquilo tudo sempre, é um zagueiraço. Olho nele.
O empate com o Palmeiras foi um excelente resultado para o Flamengo. O time não tem ataque, não tem passe, não tem padrão de jogo. O que o Flamengo tem é o Ronaldinho. E quando Ronaldinho não joga, empate é vitória, mesmo que a partida seja no Maracanã contra o Babaçuauense. Admito que às vezes exijo demais do time e não desculpo no Flamengo defeitos que relevo nos outros, mas o bando de Luxemburgo comete erros primários e indesculpáveis. Vanderlei ainda tentou ser ousado nas substituições, mas errou: não era jogo pro Negueba, e sim pro Diego Maurício, e não há jogo de futebol que seja para o Fierro. Mesmo com a pressão, a agressão, os desfalques e o nível sofrível dos seus jogadores, sobretudo do meio pra frante – o que é Fernandão, meu deus?! –, o Palmeiras foi melhor e mais consciente. Como escrevi acima, na tarde de ontem faltou tudo ao São Paulo. E na noite de ontem faltou Ronaldinho ao Flamengo. Ou seja: tudo.
Quem cultiva o doentio hábito de acompanhar este blog – tem louco pra tudo – já me viu elogiar várias vezes o Botafogo. Tem um excelente goleiro, laterais muito bons, o melhor segundo volante do campeonato, um atacante tão carismático quanto eficiente e talvez seja o time mais rápido e ofensivo desse Brasileirão. Quem ignorar o Botafogo, na hora de avaliar os candidatos às vagas na Libertadores e até ao título, pode se estrepar. Quanto ao Corinthians, vale o que escrevi segunda-feira em minha resposta ao comentário do Jaime: é um dos favoritos, talvez seja mesmo o maior dos favoritos, mas se um time entra em campo com Moradei no meio-campo, Danilo no comando do ataque e Jorge Henrique, um dos maiores enganadores do futebol brasileiro, em lugar nenhum, tudo pode acontecer.
Eu já soube de torcedores do Flamengo que invadiram o treino, de torcedores do Corinthians que protestaram violentamente na porta do CT, já vi imagens do Romário – escoltado por seguranças, claro – pulando o alambrado das Laranjeiras pra bater num torcedor que infernizava o treino do Fluminense. Mas nunca vi nada parecido com o que acontece no Palmeiras. É um caldeirão que jamais para de ferver, uma guerra interna interminável, uma confusão infernal. Diante disso, nada surpreende, mas a pergunta que não quer calar é: por que o pobre-coitado do João Marcos?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O time de guerreiros chorões.
Por que Abel Braga e os jogadores do Fluminense não se manifestaram quando Fred fez o segundo gol do Flu contra o Avaí em impedimento claro? O jogo estava um a um e o Avaí dominava, tendo inclusive mandado uma bola na trave um pouco antes da garfada. Por que Abel Braga e os jogadores do Fluminense não se manifestaram quando Rafael Moura fez o gol da vitória contra o Atlético Goianiense, já nos acréscimos, também impedido? O Fluminense deveria reclamar de si mesmo. Time que quer ser campeão não pode perder para o Flamengo desfalcado de Felipe, Aírton, Willians e Ronadinho Gaúcho, ainda mais se estiver ganhando até os quarenta minutos do segundo tempo. O futebol tem duas coisas muito feias: não saber ganhar e não saber perder. Abel Braga e os jogadores do Fluminense ontem cometeram uma delas.
Quando Thiago Neves fez um a um, achei que estava de excelente tamanho. Minha maior crítica a Vanderlei Luxemburgo – maior até do que a insistência com um certo centroavante – é que ele não soube montar o elenco para o Brasileirão. Completo, o Flamengo tem um time competitivo, mas dois ou três desfalques o derrubam completamente. Ontem o time entrou bastante desfalcado, fez um primeiro tempo fraco e era totalmente dominado quando empatou o jogo pela primeira vez. Aquele pontinho cairia do céu. Mas, finalmente, Bottinelli fez o que a gente só tinha visto ele fazer no youtube, logo que foi contratado: dois lindos chutes de fora da área, dois golaços e uma vitória tão importante quanto inesperada. A torcida do Flamengo tem mania de dizer que jogos como o de ontem são vencidos na base da raça. Nada. Não há raça que faça alguém pegar na bola tão bem daquele jeito. PS: os três gols do Flamengo foram marcados depois que o inominável saiu.
O Corinthians fez ontem o que a gente não tem mais visto no futebol brasileiro: time superior, jogando em casa e precisando da vitória, apertou o pescoço do Atlético Goianiense, chegou aos três gols no primeiro tempo, liquidou a partida e se poupou na fase final. Perfeito. Willian fez um gol de quem sabe jogar bola, voltando a marcar depois de quinze rodadas, e foi o melhor em campo. A nota negativa ficou por conta da história do Imperador. Quem acompanha o blog desde o início sabe que gosto do Adriano, discordei de Luxemburgo quando ele vetou a volta do atacante ao Flamengo esse ano, e como não tenho paciência com moralismos hipócritas, torço muito pra que ele consiga se reerguer. Mas é evidente que Adriano está sem a menor condição de participar de um jogo profissional, sobretudo em um campeonato tão equilibrado como esse. Entendo a importância do marketing no futebol moderno, mas aquilo ali chega a ser maldade.
A vítima da vez nas bolas paradas foi o Botafogo. Sábado, os dois gols do Bahia começaram assim. No primeiro, uma péssima saída de bola do goleiro Renan – enquanto o titular Jefferson brilhava no banco de reservas da seleção brasileira no jogaço contra a Costa Rica – e um certo salto alto do lateral Cortês acabaram numa falta perto da área. Na cobrança, gol do Souza e a velha comemoração ironizando o chororô. No segundo, quando o Botafogo ganhava de dois a um e tinha um a mais em campo, na cobrança de uma falta na lateral da área, Marcelo Mattos fez pênalti em Fahel, que estava de costas pro gol. Se eu fosse jogador de futebol, jamais faria pênalti no Fahel mesmo que ele estivesse com a bola dominada na risca da pequena área e com o goleiro caído. Mas o Marcelo Mattos fez pênalti quando Fahel estava de costas. Souza bateu – mal toda vida, mas a bola entrou – e foi esfregar os dedos nos olhos de novo. Continuo devendo um post sobre a síndrome das bolas paradas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ruim pros dois, pior pro São Paulo.
O Cruzeiro fez tudo para perder e o São Paulo precisou de muito esforço pra deixar de ganhar. O resultado não podia ser outro. Reforçando minha réplica ao comentário do Magalha na segunda-feira, ontem foi a vez do São Paulo tomar dois gols em lances de bolas paradas. É impressionante a incompetência nacional pra resolver o problema. Ontem foi o São Paulo, domingo passado foi o Corinthians, semana que vem será o Flamengo, e assim vai. Tenho uma teoria banal, mas ela não cabe nesse post. Talvez amanhã. 
O jogo em Sete Lagoas foi bastante animado – o que é diferente de jogo bom, mas foi animado –, com gols bonitos, gols bobos, virada no placar, pênalti mal marcado, pênalti perdido e o Luís Fabiano mostrando, mais uma vez, que com ele em campo o time já tem outra cara. Foi infantilidade querer bater o pênalti, mas, coisa de boleiro, paciência. (Talvez o Rogério Ceni tenha se recusado a cobrar porque o jogo era fora de casa, e aí não dá para esconder a bola reserva, certo? Uma pequena mancha no currículo do arauto da ética e do bom-mocismo.) 
Tanto o Cruzeiro quanto o São Paulo entraram com formações menos defensivas do que as habituais, o Cruzeiro com Montillo e Roger no meio-campo, o São Paulo com Cícero e Rivaldo. E como os sistemas ofensivos foram mantidos mesmo quando os times estavam em vantagem no placar, tivemos uma partida bem mais aberta. Ficou claro que era um jogo entre um time que briga pelo título e um que, inacreditavelmente, luta pra não cair. Por isso, acho que o empate foi ruim pros dois, mas pior ainda pro São Paulo. 
Quando o pênalti existe e o juiz não marca, é compreensível. Quando o pênalti não existe e o juiz marca, é imperdoável. Não existe bobagem maior do que acreditar que o pênalti é uma falta como outra qualquer, só que dentro da área. Não. Claro que não. Definitivamente, não é. A marcação de um pênalti exige convicção absoluta por parte do árbitro, e é óbvio que ninguém pode ter convicção absoluta de algo que não aconteceu. Isso deveria ser claramente explicado aos alucinados que se apresentassem nas federações querendo ser juízes de futebol. Nada mais absurdo do que a banalização do pênalti. Nada mais arrogante e prepotente do que a marcação de um pênalti que não existiu.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O que acontece com o São Paulo quando pega adversários de responsa?
Quando fui ao Morumbi no dia sete de setembro, no milésimo jogo de Rogério Ceni com a camisa tricolor, me diverti com os comentários da gangue do Setor Azul, comandada pelo Jaime. O primeiro tempo terminou um a um, contra o fraquíssimo time do Atlético Mineiro, e um dos torcedores mais antigos esbravejava: “Isso aqui agora é campo neutro! Todo mundo vem aqui e faz o que quer”. Além de pontos incompreensíveis perdidos em casa no primeiro turno, o time abrira o segundo turno perdendo para o Fluminense por dois a um. O São Paulo acabou vencendo aquele festivo jogo com o Atlético, mas a performance no Morumbi tem sido estranha – a começar pelo inédito fato de ter sido derrotado, ali, pelos quatro clubes cariocas. Mas tem outra coisa no São Paulo que me intriga, e não é uma implicância, não é uma opinião, é uma constatação: o time tem muita dificuldade para se impor nos grandes jogos. Também não pretendo entrar no tenebroso rumo das estatísticas, mas vejamos. Como o Brasileirão dois mil e onze virou uma reedição dos saudosos torneios Rio-São Paulo, vamos fechar o raciocínio nos jogos entre esses oito clubes. Só clássico. Só pedreira. Pois bem: o São Paulo já disputou onze dessas partidas e ganhou apenas uma, contra o Fluminense, e mesmo assim lá na primeira rodada, com o campeonato ainda longe de ter engrenado. Meus amigos são-paulinos não me queiram mal, mas a impressão que dá é que, quando o bicho pega pra valer, o time atual parece mais um bando de meninos. O que mantém o São Paulo vivo na briga é que, como a gente sabe, o que decide um campeonato como esse são os pontos perdidos contra os pequenos. (Foi aí, por exemplo, que o Corinthians jogou no colo do Fluminense o título do ano passado.) Quando Ricardo Gomes dirigia o time e sofreu seu primeiro AVC, dizia-se que o verdadeiro significado da sigla era Ausência de Vitórias em Clássicos. Ricardo saiu, Carpegiani passou, Adílson veio e a ausência continua. Será que é problema do técnico? 
Por ser o time que eu torço e, consequentemente, o que mais acompanho, posso até estar enganado. Mas tenho a nítida sensação de que o Flamengo é o mais irregular entre todos os times do campeonato. Não é admissível jogar tão mal quanto jogou semana passada contra o América Mineiro, apesar da vitória, e fazer uma partida tão consistente quanto a que fez ontem contra o São Paulo. Firme na marcação, consciente na posse de bola, perigoso nos contra-ataques. Confesso que eu não sei como o Ronaldinho consegue se controlar diante do desperdício das chances que ele cria, e não atenua muito as coisas dizer que o Rogério Ceni foi o melhor jogador do São Paulo. Fez dupla no Santos com Pelé, e depois brilhou também no São Paulo, um centroavante chamado Toninho, que era muito frio dentro da área e costumava dizer o seguinte: “Não adianta mandar a bola na direção do gol e achar que você fez o seu trabalho. O bom atacante tem que olhar pra onde está concluindo e jogar a bola fora do alcance do goleiro.” Parece fácil, não? 
Se não gosto de reclamar da arbitragem quando meu time perde, imagine quando ele ganha. Mas não dá pra deixar passar a covardia do juiz Fabrício Neves Correa em não expulsar o Dagoberto, que fez a falta mais feia da partida menos de um minuto depois de receber o cartão amarelo por tirar a camisa na comemoração do belo gol. É o que eu sempre digo: ele queria prejudicar o Flamengo? Claro que não: a expulsão do Lucas, que mudou o jogo, foi injusta, por causa do exagero no primeiro cartão amarelo. Depois disso, a expulsão do Willians foi mais absurda ainda, porque sequer houve falta no lance. Não é má intenção, é que os caras são fracos, inseguros e sem critério. Mas não ter peito para expulsar o Dagoberto pegou mal à beça. 
Com o final de semana em Itapeva, no interior de São Paulo, visitando a sogra e comemorando os aniversários da minha mulher e do cunhado flamenguista, só foi possível assistir a São Paulo e Flamengo. O blog fica devendo a vascaínos, corintianos, tricolores cariocas e botafoguenses.