Num campeonato como esse, só disputa o título quem joga sério o tempo todo.
Futebol é danado. Muitas vezes, detalhes decidem e uma jogada muda o jogo. O Flamengo jogava fácil, jogava bem, jogava muito melhor que o Grêmio e ganhava por dois a zero, quando, em vez de olhar fixo a bola, marcar em cima e travar André Lima, o péssimo zagueiro Welinton deixou o centroavante gremista girar e bater pro gol. Pior que isso: virou de costas na hora do chute. Era final de primeiro tempo, o Grêmio diminuiu pra dois a um, voltou mordendo no segundo e ganhou com sobras. Pra completar, alguém disse a Renato Abreu que ele é bom de bola. Não é. É um bosta. Um jogador que só tem utilidade se atuar sério o tempo inteiro, dividir firme e entrar com disposição em todos os lances, e não frouxo feito uma flor murcha como na caneta que levou de André Lima na jogada do gol de empate. A displicência e a ruindade do sistema defensivo rubro-negro explicam como o time consegue ter o ataque mais positivo do campeonato e apenas treze vitórias em trinta e duas rodadas.
Depois do fiasco no Estádio Olímpico, precisava melhorar o amor próprio e decidi dar uma espiada em Atlético Mineiro e Palmeiras, na Arena do Jacaré. Santo remédio. Meu amigo palmeirense Gobato já comentou mais de uma vez comigo sobre o seu receio de rebaixamento. Nunca concordei, mas olhando a tabela e vendo o jogo de ontem passei a achar possível. A diferença ainda é grande, mas tudo leva a crer que fortes emoções aguardam a torcida palmeirense nas seis rodadas finais.
A covardia dos nossos técnicos, que insistem em encher suas linhas de meio-campo com cabeçudos, explica o monte de gols que os times brasileiros tomam por erros de passe na saída de bola. Não dá para esperar muita coisa de Aírton, Willians e Renato Abreu, ou de Chico, Márcio Araújo e Tinga. E a teimosia em escalar verdadeiros bondes para o comando do ataque, com a estúpida desculpa de que o time precisa de um “homem de referência”, colabora pra deixar de fazer. Ontem, quando a partida ainda estava zero a zero, Fernandão (???!!!) do Palmeiras desperdiçou uma chance inacreditável. E na última bola do jogo no Serra Dourada, Marcão perdeu um gol mais feito ainda, garantindo a derrota do Atlético Goianiense para o Inter por um a zero. Mas os dois estavam lá, servindo de referência de como não se deve jogar futebol.
O outro lado da história: quem viu Ceará e Fluminense pôde perceber o que um bom centroavante é capaz de fazer por um time. Fred largou Marquinhos na cara do gol, largou Rafael Sóbis na cara do gol, deu uma dificílima e linda cabeçada na trave, segurou os zagueiros, comandou o Flu e acabou com o jogo. Centroavante que não briga com a bola é outro papo.
Por motivos óbvios, não acompanhei muitos jogos do Ceará no Brasileirão, mas nos três últimos que vi – contra São Paulo, Flamengo e Fluminense –, Fernando Henrique falhou em todos. Fernando Henrique é o goleiro brasileiro que mais toma frangos com a ajuda de Deus. Cada bola que pega, ele agradece fazendo o nome do pai três vezes; quando toma os frangos, creio que reclame em silêncio da ausência da Providência Divina. Caso único de goleiro que defende melhor com os pés do que com as mãos, trata-se de um baita de um enganador e populista, que adora jogar pra torcida. Quando o Fluminense descobriu isso e mandou-o pra longe, ele já tinha feito estragos tão grandes quanto os que agora perigam levar o Ceará pra segunda divisão. Em nome do pai.
Ao contrário de muitos caras do Flamengo e do São Paulo, que se julgam craques e acham que jogam no melhor time do mundo, Corinthians, Vasco e Botafogo seguem dando o sangue dentro de campo, e ampliam sua condição de favoritos ao título. Já escrevi aqui, mas não custa repetir, que o único time brilhante do nosso futebol é o desinteressado Santos. Os outros têm que ralar. E as torcidas de Corinthians, Vasco e Botafogo não podem se queixar disso. Parece simples, mas pergunta pro Casemiro e pro Marlos se eles concordam. Pergunta pro Léo Moura e pro Renato Abreu o que eles acham.
Apesar de não ter visto Corinthians e Avaí, é possível falar algumas coisas – não sobre o jogo, claro, mas sobre o time. O Corinthians está longe de ter uma qualidade excepcional, mas disputa suas partidas com muita seriedade. Mesmo jogando no Pacaembu e contra o penúltimo da tabela, não é fácil sair de um a zero contra para dois a um a favor, com um a menos em campo. E como não cansa de falar meu amigo Jaime, a diferença do time em relação aos demais está nos volantes. Mas tem uma coisa: a sofrida vitória de ontem deixou claro que essa história de tabela mais fácil é balela. Vai ter que correr do primeiro ao último minuto, comer grama, morder a trave. Como, aliás, o time tem feito desde o início do campeonato e não deixou de fazer nem mesmo nos tempos das vacas magras.
Apesar de, mais uma vez, o São Paulo deixar clara sua falta de ofensividade, o jogo em São Januário foi legal. Ainda menos brilhante do que o Corinthians – mesmo com Felipe e Juninho em campo –, o Vasco joga com tanta vontade quanto e tem um fortíssimo sentido de conjunto. Claro que é estranho imaginar a faixa de campeão brasileiro no peito do Jumar e do Renato Silva, mas pode acontecer. Insisto na tecla em que tenho batido aqui: o São Paulo não tem feito maus jogos, mas a ausência de apetite é assombrosa. Ontem, que eu me lembre, houve apenas um bom chute do Carlinhos Paraíba no primeiro tempo, defendido pelo Fernando Prass, e depois uma jogada em que o Lucas escolheu mal o jeito de definir e perdeu a chance. É muito pouco. E por falar no Lucas, ah o Lucas. Outra partida bem apagadinha. O grande cara do São Paulo foi o goleiro Dênis, que fez uma ótima defesa em conclusão do Allan, uma sensacional defesa em cabeçada do Élton e uma terceira defesa que beirou o milagre em outra cabeçada do Élton. E assim, os quatro times que mais vacilam no campeonato (Fluminense, Flamengo, Inter e São Paulo) chegam à reta final disputando as duas últimas vagas na Libertadores. Nenhum dos quatro merece.