O quinhão de felicidade.
Eram os primeiros tempos de minha vida como redator publicitário. A agência ficava no Centro do Rio, no edifício ao lado daqueles três prédios que desabaram no início desse ano. O pessoal da Criação, como sempre, reclamava de tudo. Dos prazos, dos briefings, do Atendimento e, sobretudo, do cliente. Por outro lado, o pessoal da Criação era acusado, como sempre, de chegar tarde, de ser disperso e de falta de objetividade. O diretor de Criação fazia das tripas coração para manter o equilíbrio das coisas. Ele não podia pensar em trocas na equipe, porque os salários não eram lá grandes coisas e não seria tão simples repor as peças. No meio desse tiroteio, a agência promovia constantes reuniões em que muito era prometido e muito pouco era cumprido. Numa delas, lembro do discurso do diretor de Criação em que ele reconhecia algumas dificuldades, mas pregava a necessidade de cada um de nós encontrar, ali, o seu “quinhão de felicidade”. Não sei ao certo se funcionou naquela situação, mas o conceito de “quinhão de felicidade” ficou na minha cabeça, e volta e meio recorro a ele. Até no futebol.
O elenco que o Flamengo montou para a disputa desse Campeonato Brasileiro está à altura de time que vai brigar pra não cair. O quinhão de felicidade está no seguinte: se você tem que torcer pra não cair, em vez de torcer pelo título, a vida fica mais leve. Exemplo: o jogo é Corinthians e Náutico, no Pacaembu. Se o seu time briga pelo título, você tem que torcer contra o Corinthians – e aí é osso. Mas se o seu time briga pra não cair, o negócio é afundar o Náutico. Podendo torcer sempre pelo mais forte sofre-se menos, e esse é o quinhão de felicidade, no Brasileirão 2012, pra quem é flamenguista. Estou desfrutando-o.
É claro que não houve pênalti no Ibson, no lance do segundo gol do Flamengo ontem. O que aconteceu foi a manjada lei da compensação: o juiz Francisco Carlos Nascimento fora excessivamente rigoroso na expulsão do Luiz Antônio, no finzinho do primeiro tempo. Quando Ibson caiu na área, ele achou que era hora de pesar a balança pro outro lado. Com um a menos, o Flamengo teve o mérito de lutar bastante e contou com uma atuação séria e surpreendentemente firme da dupla de zaga formada por Marllon e Arthur Sanches, que eu não tenho a menor ideia de quem sejam mas parecem ter livrado a torcida rubro-negra do pesadelo de ter que aturar o Welinton. Nem no banco fica mais.
O time do São Paulo continua sendo uma incógnita. É superior ao Palmeiras, fez um gol logo no comecinho e jogou o segundo tempo inteiro com um a mais. Entretanto, o Palmeiras foi melhor, mostrou muito mais disposição e criou um número maior de oportunidades. Ao São Paulo, mais uma vez, faltou vontade de ganhar o jogo. Ao Palmeiras, mesmo com um a menos, sobrou vontade de não perder.
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