terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Algumas coisas do fim de semana.
Há muito tempo, quando ainda era possível ler a Veja, a revista publicou uma entrevista com a mulher do então ministro da Fazenda Pedro Malan. Ela era toda descoladinha, abusava das gírias e completava cada frase com uma vírgula e a palavra “malandro”. Na edição seguinte da revista, um dos maiores redatores da história da propaganda brasileira, Neil Ferreira, enviou para a seção de cartas duas linhas geniais, com o seguinte comentário: “Coitado do Pedro, malandro. Não deve ser mole ter em casa uma adolescente de quarenta anos.” Lembro dessa história toda vez que vejo o Ronaldinho Gaúcho jogar. Sim, é talentoso, é habilidoso, é inventivo, mas parece um jogador da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Não sei se alguém aí já viu algum jogo dessa tal Copinha, mas ali o futebol parece um esporte individual, em que a molecada joga pra si e faz questão de apresentar, em cada lance, uma pequena amostra do seu arsenal de habilidades. Não há uma jogada do Ronaldinho em que ele não tente uma caneta, um lençol ou um toque de letra, mesmo que isso atrase o contra-ataque ou exponha o time. Como se trata de um cara que já ganhou Copa do Mundo, Champions League etc, isso é bem mais do que desnecessário. É ridículo.
Já escrevi aqui no blog que, por motivos familiares e gratidão a quem me iniciou no incomparável universo do futebol, não torço contra o Fluminense, a não ser no Campeonato Carioca, porque ali o Flu ameaça a hegemonia do Fla. Mas tem se tornado irritante o jeito como o tricolor vem encarando as derrotas. Não há um jogo que o Fluminense perca sem que chovam reclamações, xingamentos e suspeitas sobre a arbitragem. E aí vira um círculo vicioso: quanto mais reclamam, mais o Fred se joga na área com gestos escandalosos e menos os juízes caem na conversa. O atual Fluminense é mais um desses casos que volta e meia observo no futebol brasileiro: um time começa, com ou sem méritos, a ser cantado em prosa e verso, e aí não admite perder. Quando perde, a culpa é de todo mundo, menos do próprio time. No último domingo vi, mais uma vez, o Vasco ganhar do Fluminense no peito e na raça. Tem um time inferior, um elenco muito menos rico, mas não se intimidou nem mesmo com o gol que levou cedo, caiu pra dentro e virou o jogo. Juízes erram no domingo para um lado e na quarta-feira para o outro, e absolutamente não é isso que explica o fato do Fluminense não vencer um clássico regional há onze jogos. Ninguém pode gostar de perder, mas saber perder é obrigatório. 
Por falar em dificuldade para vencer clássicos regionais, o tricolor paulista vai pegando o cacoete do tricolor carioca. Treinador ousado é sempre um problema, e preciso admitir que aqui a palavra “ousado” é um eufemismo: na verdade, Leão inventou. Escalou mal, substituiu pessimamante e não soube aproveitar a ausência de três dos principais jogadores do Corinthians. Claro que o pênalti cobrado por Jádson à la Ronaldinho interferiu, mas faz parte do jogo, ué. O São Paulo contratou bem, dispensou melhor ainda e o time pode dar samba. Mas seria bom que o Leão não inventasse, que o Lucas não pipocasse nos grandes jogos e que o Dênis saísse do gol nas cobranças de escanteio. A defesa deu mole no gol do Danilo, mas, ao contrário do que afirmaram Cléber Machado, Caio e Casagrande na transmissão da Globo, ele tinha que ter saído naquela bola. 
No domingo retrasado, pouco mais de oito mil pessoas foram ao Engenhão pra ver Flamengo e Botafogo, que foi um bom jogo. No último domingo, pouco mais de sete mil pessoas foram ao Engenhão pra ver Vasco e Fluminense, que também foi muito bom. Outro dia, Bonsucesso e Macaé se enfrentaram no estádio de Édson Passos para um público de dez pessoas. Isso: dez pessoas. Uma dezena. Acho que, nos meus tempos de Rua Lauro Muller, eu nunca joguei uma pelada com apenas dez pessoas assistindo. Estão esperando o que pra fazer uma reavaliação séria do Campeonato Carioca?

Um comentário:

  1. Legal lembrar do Neil Ferreira, realmente um dos maiores redatores da propaganda. Contam uma história que é muito divertida: estava ele em uma daquelas longas reuniões, na DPZ, e depois de insistentes telefonemas ele resolve atender sua mulher, que tinha dado à luz recentemente. Ela expõe o grande problema que a afligia: Neil, fulano - a criança - está rejeitando meu peito e não sei mais o que fazer, já tentei de tudo e Neil - espetacular - no meio da reunião: faça uma plástica!

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