E a tabela fácil do Corinthians continua criando as maiores dificuldades.
Ninguém dava nada por Bahia e São Paulo, e no entanto foi um jogão. Wellington fez um gol que nunca mais vai fazer na vida, Souza comeu a bola, coisas estranhas aconteceram sábado em Salvador. E a torcida são-paulina sentiu a mesma decepção que a torcida do Flamengo teve no outro domingo: o time abriu dois gols de vantagem jogando fora de casa, dominava e tomou a virada. Como escrevi aqui no blog outro dia, Flamengo e São Paulo têm tanta convicção dos seus erros que os repetem à exaustão. A novidade no time de Leão foi entrar em campo sem lateral-esquerdo. Se bem que isso também não chega a ser novidade. O São Paulo vem jogando sem lateral-esquerdo desde que contratou o Juan. Sábado, só oficializou.
Antes do jogo entre Bahia e São Paulo, o macaco velho Joel Santana reclamou da escalação de um árbitro do Paraná, já que ao Atlético Paranaense interessava a derrota do Bahia. (Vanderlei Luxemburgo também já tinha chiado: a indicação de um gaúcho para apitar Flamengo e Cruzeiro poderia beneficiar o Internacional.) Ingênuos, o narrador Milton Leite e o comentarista Maurício Noriega endossaram a bronca do Joel, dizendo que a CBF poderia ter mais cuidado com esse tipo de coisa e blablablá. Fiz um exerciciozinho rápido e concluí que, em partidas de quem está no alto da tabela contra quem está na rabeira (São Paulo x Bahia e Flamengo x Cruzeiro, por exemplo) era simplesmente impossível escolher juízes com neutralidade absoluta. Nesses dois jogos, só poderiam atuar árbitros de Goiás ou de estados sem clube na série A. Moral da história: em vez de cair na conversa mole desses treinadores espertalhões, seria muito melhor que a nossa imprensa esportiva adquirisse o saudável hábito de pensar.
Não costumo admirar treinadores, mas de alguns eu consigo gostar menos ainda. Caio Jr. é um deles. Em 2007, perdeu em casa para o Atlético Mineiro, que fizera um campeonato bem fracote, o jogo que daria a vaga na Libertadores ao Palmeiras. E, na parte que me toca, em 2008 recebeu um time redondinho do Joel Santana, mas se enrolou todo, fez um Brasileirão absolutamente irregular – num dos jogos, o Flamengo colocou três a zero em cima do Goiás, no Maracanã, e deixou o time goiano empatar – e repetiu a dose, perdendo a vaga pra Libertadores na última rodada. Agora, quando parecia que o Botafogo tinha se ajustado, jogando com equilíbrio, rapidez e objetividade, o inventivo treinador começou a mexer no esquema, a inverter posicionamentos, e foi ao auge com a irresponsável tentativa de adiantar o Renato no jogo de sábado. Pior: fez isso justo contra o Figueirense, um time certinho e traiçoeiro toda vida. Bem feito.
Dá pra reclamar alguma coisa de um time que ganha de cinco a um? Como sou chato, reclamo sim senhor. Esse é, com certeza, o pior Cruzeiro que eu já vi. A defesa é desatenta, o meio-campo é confuso e o ataque é um horror. Entretanto, faltou muito pouco para esse time despachar o Flamengo já no primeiro tempo. Fez um daqueles gols que a zaga rubro-negra adora levar, com o centroavante livre na pequena área na cobrança de um escanteio, não fez outro por pura falta de sorte, numa conclusão do Farias que bateu no travessão, e ainda perdeu um pênalti. Claro que no segundo tempo o Flamengo sobrou, apesar do Ronaldinho, mais uma vez, ter começado a enfeitar todas as jogadas quando o placar ficou dois a um. Minha mulher puxou minhas orelhas, disse que eu preciso enfiar a viola no saco e dar o braço a torcer a respeito do centroavante. Reconheço que ele melhorou demais, mas prefiro esperar o campeonato acabar. Outra coisa: quem acompanha o Flamengo deve ter percebido que, no jogo de domingo, nosso goleiro não deu voos mirabolantes, não fez defesas acrobáticas, não ficou três ou quatro vezes estendido no gramado sentindo dores lancinantes. Felipe não chega a ser mau goleiro, mas é um tremendo de um presepeiro.
O Internacional disputa pau a pau com o São Paulo o título de time mais blasé do Brasileirão. Joga como se tivesse a capacidade de fazer os gols e vencer as partidas na hora que bem entendesse. Aí, quando o jogo chega aos quarenta do segundo tempo e o Inter está perdendo, sai todo mundo correndo pra tudo quanto é lado, levantando bolas e mais bolas na área, batendo cabeça, dando carrinho e dando porrada. Tem um dos melhores elencos do país e o time titular ficou bem menos vulnerável com a barração da geriátrica zaga formada por Bolívar e Índio, mas continua com a mesma soberba que já o tirou da briga pelo título e agora pode afastá-lo também da Libertadores. O Fluminense jogou sério e fez, fora de casa, o que o Flamengo deveria ter feito contra Bahia, Figueirense, Inter e Grêmio. Tomou a frente do placar, segurou o jogo com sabedoria e ficou com os três pontos. Vale muito mais a pena do que ficar dando toquinhos bonitos pros lados e virando de costas quando o adversário chuta pro gol.
Apesar das desnecessárias firulas do Ronaldinho – na verdade, ele sempre foi assim –, vale o registro de quanto um cara que sabe jogar bola é capaz de mudar o destino de um jogo. Na partida entre Flamengo e Cruzeiro, ele não foi sequer um dos quatro melhores do time, mas a bola que meteu para o Thiago Neves no primeiro tempo e o escanteio que bateu na cabeça do Parrudo no lance do segundo gol são jogadas que obrigam o adversário a pensar: ôpa, a gente não pode deixar esse cara solto. E aí sobra espaço pros outros. O mesmo pode ser dito do Deco, com seus dois passes sensacionais para os gols de Rafael Moura e Rafael Sóbis.
É evidente que a maior decepção da rodada ficou por conta do Corinthians. Menos pela derrota, que sempre pode acontecer num campeonato imprevisível como esse, e mais pela falta de vontade de ganhar um jogo que não estava difícil. Vou cruzar duas conversas que tive sobre o Corinthians. A primeira ainda no primeiro turno, com o corintiano roxo Serginho, a segunda há duas ou três semanas com o pai da Lara, são-paulino de cantar hino. Quando o Corinthians abriu grande vantagem e pintou como favorito absoluto, Serginho temia que o time começasse a acreditar que era bom e perdesse a pegada. Jaime achava – e creio que ainda acha, da mesma forma que eu, – o Corinthians o maior candidato ao título pela diferença que fazem os dois volantes e por jogar com alma, pondo o coração na ponta da chuteira. Ambos têm razão. O time do Corinthians não é nem melhor nem pior do que outros cinco ou seis do campeonato, mas joga com muita vontade. Entretanto, se essa disposição faltar na reta final, tá arriscado a entregar mais uma vez o título de bandeja. E coitado de quem acreditou na lenda da tabela fácil. O que é fácil nesse campeonato é estar lá em cima e cair feito um mamão maduro.
E o Palmeiras segue se esforçando ao máximo para presentear sua torcida com fortes emoções na reta final do campeonato.
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