Pílulas do final de semana.
O Flamengo venceu os quatro jogos que disputou até agora, mas não jogou bem em nenhum deles. Ontem quase entregou a rapadura num jogo facílimo, contra um time que só conseguiu criar sua primeira jogada de perigo aos vinte e cinco minutos do segundo tempo. No primeiro tempo o Vasco parecia um bando de meninos assustados, acuados e que erravam tudo. Pudera: são quatro derrotas em quatro jogos, e a lanterna do campeonato. As medidas adotadas pela diretoria vascaína me pareceram contraditórias. Se os jogadores faziam corpo mole, por que demitir o técnico? Se a culpa era do técnico, por que afastar os jogadores? Ou uma coisa, ou outra. E se o futebol do clube está essa bagunça absoluta e precisando de uma faxina geral, cadê a modernidade e a competência do Gerente Executivo Rodrigo Caetano? Já vi muita gente boa defender a tese de que, quando o caos está instalado, cair para a segundona pode ser bom para reorganizar o clube. O Vasco é a prova cabal de que essa história é uma falácia.
Os jogadores de meio-campo são os caras que dão ritmo no jogo, mas não há time que consiga ser rápido se tiver atacantes lentos. Na partida de ontem, Tiago Neves correu, cavou, brigou, se mexeu, mostrou calma e categoria no lance do gol. Com Maldonado reassumindo seu lugar na vaga do fraquíssimo Fernando, a zaga já se mostrou mais firme, apesar da lambança generalizada no gol do Vasco. Ronaldinho Gaúcho estreia na próxima quarta-feira, e é válido acreditar que isso faça o time mudar da água pro vinho. Mas é importante ver o que Luxemburgo vai fazer quando Diego Maurício voltar do Subvinte. O Drogbinha precisa aperfeiçoar um monte de coisas, às vezes é afobado, às vezes prende demais a bola, às vezes usa a força quando é questão de jeito, mas pelo menos é um jogador que não vai travar o ataque por lentidão e falta de mobilidade. Se Luxemburgo insistir com Deivid, em nome única e exclusivamente do que ele fez no passado, temo que a coisa continue feia.
Com a volta de Neymar e Ganso, e com a contratação de Jonathan e Elano, o Santos vai ficar com um time muito forte para encarar a Libertadores. Mas, do mesmo modo que o Flamengo, precisa resolver com urgência o problema do comando do ataque. Keirrison é o Deivid vestido de branco. Paradão, lento e dispersivo, incorpora o clássico centroavante que só sabe empurrar a bola pra dentro, e o Santos não pode jogar com um cara assim. Acostumado com André e depois Zé Eduardo – que é bom jogador –, são grandes as chances do time sentir o estilo diferente do Keirrison. Vai ser uma pena montar uma equipe que tem tudo pra ganhar e encantar, e morrer na praia por apostar num atacante que não se encaixa naquele jeito bonito e eficiente de jogar bola.
No final de dois mil e dez, havia junto aos torcedores são-paulinos um certo consenso em relação à necessidade de renovação do elenco. Até alguns ídolos inquestionáveis, caso do Miranda, tiveram sua continuidade posta em dúvida. Pois bem. Começa a temporada e já no primeiro clássico o time mostra a mesma falta de ofensividade. Dagoberto, Fernandão, Fernandinho, Marlos, todos continuam lá. E para suprir a perda do Ricardo Oliveira, desencavaram o Marcelinho Paraíba. Aí não dá. Nenhum deles é mau jogador, mas não há por que acreditar que funcionará esse ano o que já não funcionou no ano passado. Tá certo que o Lucas faz muita falta e que o Casemiro pode ajudar, mas é preciso uma fé quase que fundamentalista para crer que o Rivaldo vai resolver os problemas do time. A verdade é que faltou coragem e ousadia nas mudanças. E a pergunta que fica é essa: será que o planejamento, do qual os são-paulinos se orgulham tanto, não passa de uma lenda?
Li em algum lugar que, caso o São Paulo não ganhe títulos nos dois próximos anos, Rogério Ceni pretende encerrar a carreira no final de dois mil e doze. Do jeito que vem espalmando bolas para o meio da área, desconfio que ele tá mesmo querendo parar.
Uma última pilulazinha para encerrar o post de hoje: depois de fazer o primeiro gol do Flamengo contra o Vasco, um gol daqueles que até o Paulo Asano faria, Deivid comemorou com uma dancinha. E eu ainda tenho que aturar isso.