A seleção dando a cara pra bater.
É certo que a insuportável chatice dos campeonatos estaduais colabora, mas a escolha de adversários de verdade vem tornando os jogos da nossa seleção mais interessantes. Creio que mesmo o mais pacheco dos nossos torcedores há de reconhecer que, numa fase preparatória, é melhor perder de dois a um para a Inglaterra do que ganhar de oito a zero da China. Quando você perde de dois a um da Inglaterra, você observa quem foi bem e quem decepcionou, quem merece voltar e quem já deu o que tinha que dar, quem jogou a chance fora e agora precisa ralar pra ser convocado de novo. Quando você enfia oito a zero na China, o cara pode fazer cinco gols que não quer dizer nada.
Aproveitei o final de semana de partidas tenebrosas pelos estaduais pra ver Brasil x Itália. O jogo foi bem bom e já deu pra perceber alguma coisa parecida com uma seleção brasileira, inclusive com Neymar jogando bola. Começou o lance do primeiro gol com uma longa e bela inversão para Hulk, fez toda a jogada do segundo e ainda deixou Hulk na cara do Buffon, com tudo em cima pra fazer o terceiro e garantir a vitória, mas Hulk foi afoito, pisou na bola, se desequilibrou e perdeu a chance.
Continuo achando que a seleção terá que se esforçar muito mais do que o normal para reconquistar a torcida, devido a um problema que é pouco citado e – pior que isso – sequer é visto como problema: a falta de identificação do torcedor com determinados jogadores. Não me refiro ao fato do cara atuar no exterior. A questão é que temos jogadores que jamais vimos jogar, e é sempre mais difícil torcer por quem não conhecemos. Nossa seleção começou a partida contra a Itália com uma zaga (Daniel Alves, David Luiz, Dante e Filipe Luís) que nunca ninguém viu atuar em clubes brasileiros. Além deles, havia o Hulk lá na frente, mais o Luiz Gustavo e o Diego Costa que entraram depois. As muitas partidas já disputadas pela seleção e o sucesso do Barcelona se encarregaram de familiarizar Daniel Alves com o torcedor brasileiro, David Luiz também vai ficando conhecido, mas querer que os torcedores se identifiquem com quem nunca viram em campo é exigir demais.
Reconheço que oficializar este critério é inviável, pois criaria uma situação de preconceito e teria gente até citando algum artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não precisa ser oficial, né? Basta jogo de cintura. Se há um cara de grande talento e superioridade indiscutível, beleza. Sejamos flexíveis. Mas, na boa, qual a vantagem de convocar o Luiz Gustavo? Não sou um grande entusiasta do Leandro Damião, mas pelo que vi contra a Itália o Diego Costa não é melhor que ele. Então, pra quê?
De qualquer modo, tivemos uma seleção em campo. Tivemos adversário. Tivemos um jogo de futebol de verdade e um teste válido. Hoje a parada é com a Rússia, e me animei pra deixar gravando. O que já é um avanço em relação ao pouco caso que a seleção vinha merecendo de todos nós.