O jogo de Volta Redonda foi bem melhor que o de São Paulo. Pena que quase ninguém viu.
Todo jogo decisivo é muito marcado, pegado e tenso, o que não quer dizer que precise ser tão ruim quanto foi São Paulo e Corinthians. Mesmo porque, até por motivos físicos, o excesso de marcação dos primeiros minutos não consegue se manter até o final, deixando as chances aparecerem. Só que elas não surgem do nada: é preciso o mínimo de competência para criá-las, e competência foi algo que ontem não deu as caras no Morumbi. O Corinthians ainda é forte, mas está abaixo do time do ano passado. O São Paulo ainda não é forte, embora eu ache que em breve será. Mas é bom que não demore, porque depois de sete anos consecutivos caindo nas semifinais do Paulistinha, parece que o Vasco acaba de ganhar um rival à altura.
Tá certo que Volta Redonda é uma cidade sem grandes atrativos, mas bem que Abel Braga poderia ter aparecido por lá. Porque, pela entrevista que deu à repórter do PFC, na volta dos dois times depois do intervalo, fiquei com a impressão de que ele estava em outro planeta. Abel disse que o Fluminense tinha dominado quarenta e quatro minutos, enquanto o Botafogo foi melhor por um minuto, deu sorte e fez o gol. Aqui de São Caetano, espremido entre caixas de mudança, o jogo que eu vi foi bem diferente. Um jogo que começou cheio de machezas de lado a lado, parecendo que ninguém assistiu às desastradas intervenções do Chris e do Lúcio no meio da semana, e que não teve domínio de ninguém. Mas essa é outra especialidade dos nossos treinadores: achar – ou, pelo menos, dizer – que seus times sempre jogaram bem. Mais uma do Abel: a jogada do gol do Botafogo, em que o Leandro Eusébio não saiu a tempo de deixar o ataque adversário impedido, não é responsabilidade do técnico? Isso não faz parte do beabá do sistema defensivo de qualquer time de futebol que se preze? Isso não precisa ser treinado exaustivamente, até que zagueiro nenhum tenha dúvida do que fazer naquele tipo de lance? Ok: nem sempre os jogadores fazem, dentro de campo, aquilo que treinam e que o técnico pede. Mas, paciência, a responsabilidade é dele. Para finalizar a bela performance de um dos nossos técnicos-top: aos vinte e cinco do segundo tempo, com o Fluminense precisando virar o jogo, precisando de gente veloz e com capacidade de conclusão, Abel pensou, pensou e pôs em campo o Felipe. Tudo isso, dizem, por mais de seiscentos mil mensais.
Sejamos justos: mesmo com o Campeonato Carioca respirando por aparelhos, não é fácil pra ninguém vencer onze jogos seguidos, incluindo aí os três clássicos. (Não custa lembrar que, em 2011, o Flamengo foi campeão carioca vencendo apenas dois dos seis clássicos que disputou.) O Botafogo é certinho, tem um goleiro muito técnico e que joga sério – jamais vi uma defesa espalhafatosa do Jefferson – e faz a maior parte de seus ataques com rapidez e bola no chão. Sem ter nada a ver com a falência do Vasco, a necessidade de recomeçar do zero do Flamengo e o cansaço do Fluminense, o Botafogo cozinhou um honesto feijão com arroz e papou o título. O time ainda tem muitos pontos fracos – Bolívar é lento e não me convence, Júlio César é no máximo um razoável reserva, faltam dois caras com qualidade na frente –, mas pode não fazer feio no Brasileiro. O que está a léguas de distância de pretender algo mais sério.
Em 1969, fui a um Fla-Flu decisivo, vencido pelo Fluminense por três a dois, com um público de cento e setenta mil pessoas. Em 1971, eu e mais cento e sessenta mil pessoas vimos o Fluminense ser campeão em cima do Botafogo. Em 1974, eu e mais cento e sessenta e cinco mil pessoas vimos o zero a zero entre Flamengo e Vasco que deu o título ao rubro-negro. Tudo isso no fantástico Maracanã, na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. Ontem, no acanhado estádio Raulino de Oliveira, na siderúrgica cidade de Volta Redonda, quinze mil pessoas viram o Botafogo ser campeão. Depois desse número de dar dó, depois do fiasco do Engenhão, depois do Flamengo fazer dois a zero no Resende e ser derrotado por três a dois, só faltava o Campeonato Carioca ser decidido com um gol do Rafael Marques. Foi.